Festival de Guimarães levou a sua "Embaixada da dança" à Escola Secundária Francisco de Holanda e cativa plateia adolescente
Corpo do artigo
Silvia Gribaudi, coreógrafa italiana apresenta, esta noite no Centro Cultural Vila Flor, “Graces”, um espetáculo que também é um manifesto a favor da ideia de que a beleza pode emergir da “imperfeição”.
Através da iniciativa “Embaixada da dança”, a coreógrafa, juntamente com Andrea Rampazzo, outro intérprete da peça, estiveram na manhã de ontem à conversa com alunas da Escola Secundária Francisco de Holanda, em Guimarães. O resultado foi uma sala revirada, com gente em cima das mesas, deitada no chão ou empoleirada nas cadeiras.
“O meu corpo era muito diferente quando tinha 25 anos”, começa por explicar Gribaudi às alunas, à medida que na tela rolava um vídeo em que uma mulher, não obesa, mas com alguma gordura, dançava com três homens em cima de um palco. Os intérpretes, não escondiam nada dos seus corpos e era claro que a mulher do vídeo estava muito distante do estereótipo da bailarina. Mas, à medida que a coreografia avança, era óbvio que o corpo “roliço” desenhava movimentos belos.
Criar um lugar
“Era muito difícil encontrar o meu espaço numa companhia, mas eu queria continuar a dançar. Tive de criar o meu lugar, mas fazer essa mudança não foi uma decisão, foi algo imposto porque o meu corpo mudou”, confessou. A bailarina levantou a camisola, saltitou, e apontando para a prega abdominal disse: “É ótima para dançar, vejam como abana”.
A plateia de adolescentes estava conquistada, mas permanecia sentada nas confortáveis cadeiras do auditório. “Para mim sempre foi mais fácil mover-me do que falar”, disse a bailarina. Foi o mote para Andrea pedir à assistência para mudar de posição na sala. “Escolham um lugar”, sugeriu. “Descubram diferentes possibilidades. Como é que podemos usar o espaço?”, insistiu. Ao fim de algumas tentativas, a inibição diluiu-se e havia alunos em cima das mesas, escondidos atrás das cortinas, no parapeito das janelas, deitados no corredor e até uma professora agachada atrás das cadeiras. Criou-se uma força palpável na sala. “É esta energia que procuramos nos nossos espetáculos”, referiu Andrea.
Menino não dança
“Fiquei encantada, mostraram-nos que não temos de ter um aspeto normativo para sermos boas bailarinas ou mesmo boas pessoas”, comenta Shante, aluna do 11º ano que quer ser arquiteta e dança hip-hop. Todavia, a audiência, sem sexo masculino, era ela própria um estereótipo: “os rapazes dizem que a dança é coisa para meninas”, confidencia Inês, de 15 anos, nada surpreendida pela ausência dos colegas.