“Bless the Sound that Saved a Witch like me” é a segunda parte de uma trilogia. Um solo arrebatador que deixou os espectadores do festival de dança de Guimarães com vontade de ver o resto da obra.
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A intérprete, Sati Veyrunes, apresentou a peça com uma proposta: “I want to share a scream with you”. O impacto (é a palavra que melhor define todo este trabalho) estava já criado, a partir do momento em que, ao entrar na black box do Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG), este sábado, o público se deparava com olhar perdido de uma bruxa cega que, contudo, tinha um sorriso meigo e um ar frágil gerador empatia.
O solo de Sati Veyrunes é uma cascata de emoções, do prazer e da alegria, ao ódio e à raiva, do silêncio ao grito, da luz às trevas. A audiência foi avisada no poema com que arranca a performance: “Quero partilhar este ruído intenso e o silêncio”. Ainda assim, um calafrio, expressão física do medo primário, foi inevitável. “Prepara-te, ela vai gritar”, diz uma mulher na plateia, firmando as duas mãos no braço da amiga sentada ao seu lado que se encolhe. Eis o grito que todos anteviam, mas que ainda assim surge de forma surpreendente.
Quando se tornou mais física, ao som da música de Lucía Ross, a performance tomou proporções de ritual satânico. O corpo de Sati Veyrunes parecia então tomado por uma força que a impelia a exibir uma sexualidade luxuriosa e maligna. “E os meus orifícios estão a escorrer ouro/ Ouro…ouro/ Putas de ouro que vocês nunca poderão possuir!”
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Assim como a peça alternou entre a música trance, os gritos e o silêncio, a bruxa também se transfigurou, em certas alturas, numa figura que podia ser a mãe que nos trouxe ao colo. A duas, a figura maléfica e o anjo, alertaram para a necessidade imperiosa de gritar: “na guerra não há tempo para melancolia”. Silêncio e “fade to black” no final. Quem viu ficou com vontade conhecer os outros dois solos que compõem a triologia: "Sorry, But I Feel Slightly Dissidentified..." e “The Blue Hour”.