Hugh Laurie e Mark Ruffalo em adaptação de romance distinguido com o Pulitzer
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Adaptação do romance homónimo do norte-americano Anthony Doerr, distinguido com um Pulitzer em 2015, “Toda a luz que não podemos ver” é uma mini-série que, em quatro episódios intensos, acompanha cinco personagens durante os últimos dias da ocupação francesa pelo exército nazi.
Embora a história se centre em Marie (Aria Mia Loberti), uma jovem cega, o verdadeiro protagonista é Étienne (Hugh Laurie, num registo bem mais contido do que lhe conhecemos em “Dr. House”), que viveu a Primeira Guerra Mundial, sofreu os horrores e os ataques com gás nas trincheiras e ficou com memórias terríveis. Para tentar silenciá-las, optou pelas palavras, criando na frequência de 1310, um espaço de partilha, em que passa uma mensagem de esperança e de fé no futuro, embora este acabe por ser violentamente posto em causa pelo início da II Guerra Mundial.
Quando Marie e o pai (Mark Ruffalo) têm de abandonar Paris, vão para casa de Étienne, onde a jovem, uma das suas ouvintes fiéis, irá dar continuidade àquele projeto radiofónico, aproveitado também para passar mensagens à Resistência e aos aliados.
Os outros dois participantes estão do lado do inimigo. Um deles é Werner (Louis Hofmann), um jovem soldado alemão espantosamente dotado para trabalhar com rádios, a quem aquelas emissões também marcaram profundamente. O outro, é Reinhold von Rumpel (Lars Eidinger), que acredita que um mítico diamante, que o pai de Marie escondeu aquando da sua fuga de Paris, tem poderes para curar a doença que o condenará a curto prazo.
Ao longo dos episódios, que retratam com realismo a violência inerente ao conflito bélico, os cinco vão-se cruzando, ignorando como o destino se prepara para fazer deles protagonistas de um momento específico no seio do conflito, enquanto, em simultâneo, vamos conhecendo o seu passado, percebendo o que os levou até ali e a importância da magia da rádio nas suas vidas.
Com a história a girar em torno do velho transmissor, instalado numas águas-furtadas em Saint-Mallo, e as bombas aliadas a caírem, esta mini-série com um longo e belo título, é uma narrativa apaixonante, que transborda de pistas narrativas e contorna muitas vezes o previsível e óbvio.
Toda a luz que não podemos ver
Direcção: Shawn Levy
Com Aria Mia Loberti, Hugh Laurie, Mark Ruffalo, Louis Hofmann e Lars Eidinger
Netflix, 2023