Mesmo com as portas fechadas, as livrarias apostam nas entregas ao domicílio para continuarem a sua atividade.
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Desde o início da pandemia, a Flânerie, a bicicleta que a livraria Flâneur utiliza nas entregas ao domicílio, já fez mais quilómetros do que em qualquer um dos quatro anos anteriores. É ao volante desta bicicleta literária - mas também de carro ou a pé - que os livreiros Arnaldo Vila Pouca e Cátia Monteiro entregam os livros, depois de ter sido consumada a compra, por telefone ou através do site.
"Para já, ainda não sentimos grandes diferenças, mas no primeiro confinamento foram muitas as encomendas", afirma Arnaldo.
Se, no caso em particular desta livraria e editora independente situada nas proximidades da Casa da Música, as entregas ao domicílio sempre fizeram parte da sua essência, são vários os exemplos de adaptação do modelo de funcionamento à nova realidade. Tal como aconteceu nos meses de março e abril do ano passado, as livrarias foram obrigadas a fechar portas e desta vez sem terem o paliativo das vendas ao postigo.
"Temos de arranjar alternativas", sintetiza Helena Girão Santos, da Livraria Fonte de Letras, em Évora. Com a livraria encerrada, o dia a dia é agora dividido entre a entrega ao domicílio, a expedição de livros e a divulgação de promoções através das redes sociais.
Um dos projetos mais ambiciosos em curso é o da parceria que a Leya estabeleceu com a plataforma Glovo. O processo é em tudo semelhante ao da compra de bens alimentares: a partir da aplicação disponível para telemóveis e tablets, os utilizadores podem escolher entre um total de 50 livros de qualquer editora - a oferta vai duplicar nos próximos dias - pertencentes a géneros como a ficção, o ensaio ou a banda desenhada.
Após o pagamento, só é preciso esperar alguns minutos (o tempo máximo é de apenas meia hora) para que recebam o livro em casa, entregue por um estafeta da Glovo.
O serviço está disponível nas quatro cidades do continente em que o grupo editorial dispõe de livrarias (Lisboa, Porto, Aveiro e Viseu) e cobre um raio de ação de seis quilómetros.
Pedro Sobral, diretor de marketing da Leya, qualifica de "muito promissores" os primeiros resultados. A parceria entrou em vigor no passado dia 12, nas vésperas de um novo confinamento, cuja extensão é ainda desconhecida. Qualquer que seja a sua duração, há pelo menos uma certeza: a aposta neste segmento é para continuar. "É uma solução de proximidade muito interessante, que nos permite complementar as ofertas que temos", afirma Pedro Sobral, relembrando o esforço contínuo da Leya na procura de novas soluções, de que é exemplo o Clube de Leytura, um serviço de subscrição de livros infantis e juvenis.
Vendas online escapam ao ano negro do setor
A subida acentuada das vendas online foi uma das poucas boas notícias dos livreiros no último ano. Na Bruaá, o aumento da procura durante o primeiro confinamento chegou a rondar os 300%. "É por isso que temos vindo a reforçar a nossa aposta no segmento", explica Miguel Gouveia, da livraria e editora sediada na Figueira da Foz. As livrarias que ainda não dispõem de sites estão a trabalhar nesse sentido. É o caso da Fonte de Letras, em Évora, que, segundo Helena Girão Santos, vai complementar "muito em breve" as suas "newsletters" com uma forte aposta digital.