Aberta investigação após nomeação "surpresa" de Andrea Riseborough para melhor atriz

Andrea Riseborough interpreta uma mãe solteira do Texas que luta contra o alcoolismo
AFP
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas disse, na sexta-feira, que ia lançar uma revisão da campanha dos Oscars, dias depois de um pequeno filme independente ter surpreendido a indústria com uma nomeação "surpresa" para os prémios de maior prestígio de Hollywood.
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"To Leslie" arrecadou 27 mil dólares (24788 euros) nas bilheteiras quando o nome de Andrea Riseborough apareceu na lista de indicados para Melhor Atriz. Riseborough, que interpreta uma mãe solteira do Texas que luta contra o alcoolismo, derrotou as supostas favoritas, as atrizes de raça negra Viola Davis ("The Woman King") e Danielle Deadwyler ("Till").
A indicação de Riseborough ao Oscar aparenta ter surgido "do nada", já que raramente apareceu no início da temporada de nomeações. Por outro lado, Viola Davis e Danielle Deadwyler foram indicadas ao prémio Screen Actors Guild e Davis ao Globo de Ouro. A única indicação significativa de Riseborough é para os prémios Independent Spirit, que serão anunciados em março. No entanto, o perfil de "To Leslie" foi criado por uma campanha combinada que envolvia um número significativo de atores, incluindo Edward Norton, Charlize Theron, Jennifer Aniston e a também indicada ao Oscar Cate Blanchett, que organizou exibições e perguntas e respostas, falou de Riseborough em cerimónias de premiação ou fez publicações nas redes sociais. A campanha de "To Leslie" foi assistida por duas empresas de relações públicas, Narrative e Shelter, e parece ser autofinanciada, enquanto "Till" e "The Woman King" foram apoiados pelos estúdios United Artists e Sony, respetivamente.
Os Oscars são concedidos com base nos votos dos 9500 membros da Academia - muitos deles vencedores anteriores. A associação é dividida em 17 ramos e cada um escolhe os indicados na sua área de especialização. Com cerca de 1300 membros do ramo de atores, um indicado nessa categoria precisa de pouco mais de 200 votos para entrar na lista. Nos meses que antecedem a noite dos Oscars, que este ano será realizada em 12 de março, "outdoors" em Los Angeles estão repletos de anúncios de filmes enquanto os estúdios tentam persuadir os votantes. Há também uma série de festas e eventos. As campanhas são organizadas por empresas profissionais, que não são baratas e geralmente são reservadas a grandes estúdios. "To Leslie" estava ausente deste circuito.
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Academia vai investigar campanha
De acordo com a revista "Variety", a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas recebeu vários telefonemas e e-mails após a nomeação e houve um intenso debate entre os cineastas sobre se as regras foram quebradas.
As diretrizes enfatizam que as campanhas devem ser "conduzidas de forma justa e ética" - por exemplo, limitando o número de exibições que podem ser realizadas, definindo o tipo de hospitalidade que pode ser oferecida e proibindo os indicados de entrar em contacto diretamente com os eleitores dos Oscars.
Na sexta-feira, a Academia assegurou que vai examinar os processos de nomeação, embora não tenha mencionado o nome do filme em causa. "O objetivo da Academia é garantir que a competição seja conduzida de forma justa e ética e estamos comprometidos em garantir um processo de premiação inclusivo", lê-se num comunicado. "Estamos a conduzir uma revisão dos procedimentos de campanha em torno dos indicados deste ano para garantir que nenhuma diretriz foi violada e para ver se podem ser necessárias mudanças nas diretrizes numa nova era de redes sociais e comunicação digital. Temos confiança na integridade dos nossos procedimentos de nomeação e votação e apoiamos campanhas populares genuínas para desempenhos excecionais".
Nomeação levanta debate sobre raça
O diretor de "Till", Chinonye Chukwu, denunciou a indústria cinematográfica por "defender a brancura e perpetuar uma misoginia descarada em relação às mulheres negras". Por sua vez, num texto de opinião publicado no "LA Times", o crítico de cinema Robert Daniels escreveu: "Embora seja fácil apontar o dedo a Riseborough por tomar uma vaga de mulheres negras, sistemas quebrados persistem quando focamos nossa ira em indivíduos".
Nas redes sociais, renasceu a hashtag #OscarsSoWhite, que alcançou destaque pela primeira vez em 2016, depois de nenhum ator não branco ter sido indicado em nenhuma das categorias.
