O músico Pedro Abrunhosa criticou esta sexta-feira o facto de a cidade do Porto, ao nível cultural, não estar a competir com Vigo, Corunha ou Santiago mas sim "com a Rechousa", considerando lamentável que não haja um Ministério da Cultura neste Governo.
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Durante a conferência "Portugal com Norte", no âmbito das comemorações dos 20 anos da TSF, Pedro Abrunhosa afirmou que "a Câmara do Porto limita-se a gerir semáforos e parquímetros e não tem qualquer apetência cultural", não se podendo esperar grandes apoios "de uma edilidade que confunde cultura com lazer".
"Eu gostei muito de ver o Professor Oliveira Salazar longe da Cultura e eu gostava que o presidente da Câmara do Porto se continuasse a posicionar como está porque de facto vai marcar um período: durante 12 anos a cidade do Porto não fez nada", enfatizou.
O deputado municipal eleito pelo PS nas últimas autárquicas foi perentório: "o Porto, neste momento, compete ao nível cultural com Gondomar e portanto já não compete com Vigo, com a Corunha nem com Santiago. O Porto está a competir com a Rechousa [lugar de Gaia]. É lamentável que esta cidade tenha chegado a isto".
Para o artista do Porto, em termos nacionais, "pior do que o orçamento é não haver uma estratégia concertada para a cultura".
"A cultura merece ser tratada com a dignidade com que são tratadas as outras áreas daí que eu ache estranho e queria levantar o meu protesto ao facto de neste Governo não haver Ministério da Cultura", condenou.
Para Abrunhosa "isto significa que a Cultura jamais poderá reivindicar ou debater-se nas questões de Estado e nas questões nacionais de pé".
"Segundo dados do INE as indústrias culturais e recreativas produzem três vezes mais riqueza do que a indústria do futebol. É normal que assim seja atendendo à tributação a que o futebol é sujeito e à tributação a que nós somos sujeitos", sublinhou.
Assim, o compositor condena o facto dos "músicos não estarem isentos de impostos como os futebolistas".
"A cultura não reclama grandes apoios para si, nem precisa porque a cultura tem que permanecer independente, é uma voz que não é do poder político", disse.
O deputado municipal sublinhou ainda que "a cultura abre caminho, implementa um sentido de imagem territorial nacional", dando os exemplos do Brasil e de Cabo Verde, onde a grande maioria dos músicos têm passaporte diplomático e as viagens são apoiadas pelo Governo.
"Escusado será dizer o esforço titânico que cada um de nós, agente cultural português, tem que fazer quando vai atuar fora. Portugal tem uma imagem negativa no mundo porque não soube ainda respeitar-se e respeitar a sua própria cultura", observou.