Produção de sucesso dos musicais e do cinema chegou à capital em português, pela Music Theater Lisbon. Adesão está a ser “acima das expetativas” e o Porto pode seguir-se.
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“É uma vida dura para nós”, canta Annie com as restantes crianças do orfanato de Hudson Street, Nova Iorque, imaginado para o musical da Broadway que se tornou num clássico do cinema – e que chegou este ano, novamente em formato musical, ao nosso país. “É uma vida muito dura” (“It’s the Hard Knock Life”, no original), mas os musicais ajudam a alegrá-la, acredita Martim Galamba, fundador da associação cultural responsável pelo espetáculo que está até 23 de dezembro no Auditório Orlando Ribeiro, em Lisboa – e que Galamba gostava de levar ao Porto.
“Sim, os musicais ajudam. Aliás, o público português quer muito ver teatro musical. A procura que temos tido é demonstrativa disso” explica o fundador da Music Theater Lisbon ao JN. A adesão do público a “Annie”, em palco desde dia 8, “superou as expetativas”, tendo sido abertas sessões e datas extra, sem a procura parar de crescer, e havendo já poucos bilhetes disponíveis. “Não conseguimos abrir mais datas, se mais houvesse mais o público quereria” frisa o responsável. Para Galamba, a explicação é simples e é, aliás, a força que move a MTL: “não há muitos musicais deste género em Portugal”, frisa. Há procura, há ambiente, há “muito talento nacional, que não é aproveitado como deveria”, mas musicais com música ao vivo, feitos à semelhança da Broadway, não chegam para a demanda.
Por isto, a associação quer trazer mais destes eventos ao país: não só a Lisboa, mas ao resto de Portugal, nomeadamente ao Porto. “Gostava muito de ir ao Porto. Ainda não surgiu a oportunidade, mas estive em outubro a trabalhar noutro projeto e fiquei com muita vontade de chegarmos ao Porto, pelo que espero que possa acontecer. Há imenso talento no Porto e acho que o publico quer e há pouca oferta”, conta-nos. Sobre se ainda será exequível levar o “Annie” lá, responde que “eventualmente sim”.
A cantar desde os anos 70
Um dos maiores êxitos de sempre da Broadway, o musical “Annie” nasceu no final dos anos 70 com música de Charles Strouse, letras de Martin Charnin e libreto de Thomas Meehan. Baseado em tiras de bandas desenhada, a história passa-se na década de 1930 em Nova Iorque, levando o público a conhecer a jovem Annie e o seu inabalável otimismo em encontrar os seus pais, apesar das mais desafiantes circunstâncias, com músicas que se tornaram êxitos intemporais. O musical esteve cerca de seis anos em cena na Broadway, com quase 2500 apresentações, tornando-se um fenómeno mundial e vencendo sete prémios Tony. Das várias adaptações a cinema, a de 1982, realizada por John Huston, foi a mais memorável.
Nesta nova versão que chega agora a Portugal, o público é convidado a mergulhar numa experiência imersiva e de época, com música ao vivo (orquestra) e atrizes, cantoras e bailarinas portuguesas no elenco, incluindo Lily Arriaga como protagonista, nomeada em 2022 Broadway Rising Star.
“Escolhemos a “Annie” porque é um espetáculo ideal para a época natalícia e porque queríamos algo que chegasse às pessoas, que chamasse a atenção”, adianta ao JN Martim Galamba, lembrando que a mensagem continua “muito relevante”: o ser preciso otimismo, esperança, sonhar. “É interessante porque há muitas coisas que se passaram quando decorre a ação do espetáculo, após a crise de 1929, com as pessoas muito desalentadas com o panorama em que viviam. E este espírito ressoa muito atualmente, a nível nacional e internacional. Por isso é uma mensagem que toca a todo o público e a todas as faixas etárias”, lembra, adiantando que o facto de o elenco ser de jovens adultos (e não crianças) não tem impedido o agrado e a compreensão dos mais novos.
“Eu estava com algum receio que esta versão fosse mais adulta, mas as crianças têm vibrado imenso porque a história ressoa consoante as faixas etárias” explica, frisando que a escolha de atores adultos foi assumida extrapolando a realidade e imaginando “quase como se o orfanato fosse um local onde estas jovens são exploradas”.
O elenco foi encontrado junto de atrizes profissionais, algumas com carreiras longas, outras selecionadas nos workshops que a Music Theater Lisbon vai realizando regularmente, com a participação de atores da Broadway.
A associação cultural sem fins lucrativos, criada há cerca de ano e meio, tem como missão assumida transformar o cenário do Teatro Musical em Portugal e criar cá um ponto europeu de referência desta forma de arte, uma “base da ponte entre a Broadway e a Europa”.
Entre espetáculos, workshops e masterclasses, a MTL promove uma programação focada em atividades que visam promover o crescimento e a excelência deste género, que é também uma indústria de milhões, a nível nacional. Segundo Galamba, a associação tem sido alvo interesse por parte da indústria de teatro musical no estrangeiro.
Os bilhetes para “Annie” são já escassos e estão à venda na BOL.