Alfândega do Porto inaugura sexta-feira exposição com quadros e objetos contrafeitos apreendidos pela PJ.
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Júlio Pomar ficou furioso. Um potencial comprador de um quadro do pintor mostrou-lhe a obra, para que a avaliasse. Mas a reação do artista não foi a que o investidor esperava. Riscou a assinatura falsificada e escreveu em maiúsculas: "Não é um desenho original".
A obra falsa foi apreendida, mas não ficou esquecida num armazém da Polícia Judiciária (PJ). Será um dos 130 quadros de 44 alegados pintores exibidos numa nova exposição, que está nos preparativos finais, inserida num espaço de 1000 metros quadrados na Alfândega, no Porto. Pomar, que morreu em 2018, é o artista nacional mais falsificado, mas não faltam "obras" de Picasso, Renoir ou Chagall, nem de dos portugueses Aurélia de Sousa, Amadeo de Souza-Cardoso ou Paula Rego.
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"Em Portugal, são apreendidas anualmente quase uma obra de arte por semana", revelou ao JN Norberto Martins, diretor da PJ Norte, que sublinha ainda que "o comércio de obras de arte representa um volume assinalável de negócios, gerador de avultadas receitas".
A mostra, que é inaugurada na sexta-feira pelo primeiro-ministro, António Costa, assinala simultaneamente os 150 anos da Alfândega e os 75 da PJ, aqui representada pela Diretoria do Norte.
Se algumas obras são fotocópias grosseiras ou copiadas numa mesa de luz a caneta de feltro, há outras falsificações melhor trabalhadas. Como os quadros alegadamente de Paula Rego, que tiveram de ser denunciados pela pintora. Ou o caso de duas pinturas que pareciam estar assinadas por Tito Roboredo e cuja veracidade foi desmascarada depois de os peritos forenses recorrerem a análises técnicas e laboratoriais, que revelaram, entre outras discrepâncias, que afinal o quadro estava assinado como "Tito Reboredo".
A exposição vai também mostrar obras de arte sacra falsas, detetadas num caso em que um restaurador copiava santos, entregava a cópia aos donos e vendia os originais.
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Mais do que arte falsa
Mas nem só de arte se compõe a mostra. Há também máquinas de falsos médicos que curam todas as doenças, carros novos construídos de duas metades de sucata, joias sem contraste, documentos sobre o processo Alves dos Reis, armas de guarda-chuva ou pranchas de surf repletas de droga.
Os objetos em exposição fazem parte de processos de investigação concluídos pela PJ e também dos Serviços Aduaneiros que, como fiscalizadores das portas de entrada e saída do país, detetam também uma série de falsificações.
Há ainda um núcleo dedicado ao cibercrime, "onde decorrem atualmente mais de 50% dos crimes", explicou Norberto Martins.