Dezenas de intérpretes concentram-se durante o dia no CAMPUS Paulo Cunha e Silva, no Porto, para partilharem ensinamentos sobre as suas especialidades na dança.
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Se o Festival Dias da Dança (DDD) arrancou com três récitas esgotadas na terça-feira à noite - "Zona franca", de Alice Ripoll, "Remachine", de Jefta Van Dinther, e "Salão Pavão", de Marco da Silva Ferreira -, há um lado oculto do certame que é muito mais introspetivo e oculto do público geral. Não se nasce bailarino, faz-se bailarino, e cada intérprete que aparece em cena carrega no corpo horas e anos infindáveis de estúdio.
Na cidade do Porto há um oásis chamado CAMPUS Paulo Cunha e Silva, onde todos os dias decorrem formações para bailarinos e público geral, que se adensam durante o festival.
Apesar de a programação ter terminado, neste primeiro dia, quando já passava da uma hora da manhã, sete horas depois já os corpos estavam pousados sobre o linóleo dos estúdios do CAMPUS para a prática de ioga.
Mas não só. Na sala de Marga Alfeirão - o portento alentejano que se estreia este ano no DDD - pratica-se “a paciência a partir do erotismo”.
Marga feliz
As referências são múltiplas e muito mais profundas do que a superfície de passos e técnicas de dança. Aqui discutem-se valores como a liberdade, ou o significado de um 5 de julho de 1975, em Cabo Verde, enquanto se exorcizam estas emoções ao som de um funaná.
Marga não podia estar mais feliz e explica a importância de trabalhar a memória e mostrar a gratidão com quem jurou Liberdade. Para ela, estarem ali todos juntos, portugueses e estrangeiros, velhos e mais novos unidos nesta troca, é o verdadeiro 25 de Abril.
O mágico rebolado
Se dúvidas houvesse, Katiany Correia, bailarina de “Zona franca”, de Alice Ripoll, aparece em micro calções amarelos e verdes a dizer "Brazil" para lecionar o workshop “Então joga”.
“Adoro levar a cultura brasileira a outros lugares e mostrar a magia do rebolado e do funk brasileiro”. No seu workshop, o público é exclusivamente feminino e português. Os alongamentos e isolamentos necessários para articular o quadril começam pequenos para logo ganharem amplitude e a força. Mas há passos que parecem ter denominação de origem demarcada.
A mesma premissa aplica-se ao workshop do americano Jeremy Nedd que começa por contar aos formandos a história do Milly Rock, um passo que nasceu de um rapper, em Brooklyn, para depois ser apropriado pela indústria de milhões do jogo "Fortnite".
O coreógrafo que tinha bailarinos de vários continentes na sala, decompôs a técnica de uma forma muito gentil como a sua voz e movimento.