
Homenagem a Celeste Rodrigues, no teatro S. Luiz
Diana Quintela / Global Imagens
A fadista Celeste Rodrigues morreu esta quarta-feira, aos 95 anos, e foram várias as personalidades que já reagiram.
Nascida no Fundão, em 14 de março de 1923, irmã de Amália Rodrigues, Celeste Rodrigues iniciou a carreira há 73 anos, ao aceitar o convite feito pelo empresário José Miguel (1908-1972), detentor de vários teatros e casas de fado, entre os quais o Café Casablanca. Do seu repertório constam, entre outros temas, "A Lenda das Algas" e o "Fado das Queixas".
Celeste Rodrigues atuou em abril passado no Town Hall, em Nova Iorque, ao lado de Carlos do Carmo, no âmbito do Festival de Fado.
Em maio, cantou no palco do Teatro TivoliBBVA, em Lisboa, e, na altura, disse à Lusa que "cantar é sempre uma alegria, mas ainda mais nesta idade, porque não é fácil ter ainda um bocadinho de voz" para que se "atravesse" a cantar.
No último ano a fadista estreitou relações com Madonna, atualmente a viver em Lisboa, com quem passou a última passagem do ano, em Nova Iorque.
Em dezembro do ano passado, a criadora de "True Colors" fez um dueto espontâneo com Celeste Rodrigues, que considerava "uma lenda viva", na Mesa de Frades, em Lisboa, interpretando "Can't Help Falling in Love", uma canção Elvis Presley, um dos ídolos da cantora norte-americana, apesar de a fadista portuguesa preferir David Bowie, como confessou publicamente.
Numa das suas entrevistas à Lusa, Celeste Rodrigues afirmou: "Acho que o fado é uma música linda, maravilhosa. Com palavras bonitas, ainda mais maravilhoso fica. Portanto, é natural que faça sucesso. E [o fado] entra em nós, está nas veias de todos os portugueses".
Governo refere que a fadista "inspirou gerações de artistas com o seu talento e dedicação"
A fadista Celeste Rodrigues, que morreu esta quarta-feira, aos 95 anos, "inspirou gerações de artistas com o seu talento e dedicação" e protagonizou uma "vibrante carreira", afirma o ministro da Cultura, numa nota de pesar.
"A fadista para quem cantar era uma alegria, inspirou gerações de artistas com o seu talento e dedicação", lê-se na nota de Luís Filipe de Castro Mendes, que "lamenta profundamente" a morte de Celeste Rodrigues.
O ministro refere que a música sempre esteve presente na vida de Celeste Rodrigues, que começou a cantar aos 22 anos, a convite do empresário José Miguel.
Castro Mendes refere a "timidez" de Celeste Rodrigues, que "tinha uma destacada capacidade de interpretação e foi uma das primeiras fadistas", nomeadamente na internacionalização do fado, tendo protagonizado uma "vibrante carreira".
O ministro da Cultura salienta, do seu repertório, o "Fado das Queixas" e "A Lenda das Algas" assim como a participação no espetáculo "Cabelo Branco é Saudade", concebido pelo encenador Ricardo Pais, quando dirigia o Teatro Nacional S. João, no Porto.
A intérprete "aliou os fados tradicionais aos autores contemporâneos", afirma o ministro.
Presidente da República lembra "voz única" da fadista
"Celeste Rodrigues tinha de facto uma voz única, distinta da voz da sua mãe, distinta da voz da sua irmã Amália, distinta na sua independência, autonomia e sobretudo alegria", lê-se numa mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa, divulgada no site da Presidência da República.
Sublinhando que, até ao fim da sua vida, a fadista "nunca perdeu a curiosidade de conhecer um mundo em permanente mudança", o chefe de Estado lembra que Celeste Rodrigues cantou com inúmeros artistas portugueses e internacionais, "a todos conquistando com a sua amabilidade tão genuína".
"Foi com grande tristeza que soube da notícia do falecimento da fadista Celeste Rodrigues. Herdou dos pais o gosto pela música, pelo fado em particular, uma constante na sua vida e um verdadeiro dom que generosamente partilhou com todos à sua volta, amigos e desconhecidos", acrescenta o Presidente da República, endereçando "um abraço muito forte à família enlutada e a tantos amigos que hoje se despedem" da fadista.
Compositor Jorge Fernando disse que Celeste Rodrigues continuará a viver no coração das pessoas
O compositor Jorge Fernando disse esta quarta-feira à agência Lusa que Celeste Rodrigues é uma dessas pessoas que deviam ser eternas, e mostrou-se convicto de que a fadista "continuará a viver na cabeça e no coração das pessoas".
"Celeste é a prova provada de quando achamos que alguém deve ser eterno; ela é uma dessas pessoas", disse Jorge Fernando à agência Lusa, numa reação à morte da fadista, ocorrida hoje, em Lisboa, aos 95 anos.
O autor acrescentou que teve "o benefício" de partilhar a "inteligência, tolerância" e "aquela força enorme de viver e o gosto de viver" que a fadista tinha, assim como a lucidez que apresentava aos 95 anos, sobre "qualquer tema, em qualquer conversa".
"É realmente daqueles seres que nós desejamos que não acabem, que não nos deixem", frisou.
Jorge Fernando, que escreveu fados e canções para Celeste Rodrigues, sublinhou também a "sabedoria, a tolerância e a ternura" da fadista, que faziam dela um "porto de abrigo", sempre que era necessário.
Além da "obra imensa" da cantora - entre as quais "O limão", "Olha a mala" e "A lenda das algas" -, o compositor sublinhou a "voz larga e profunda" de Celeste Rodrigues.
"Não comparando com a técnica vocal da Amália, porque não há comparação com ninguém, Celeste tinha aquele 'carimbo' dos Rebordões. Aquela larga, profunda, aquele peso na palavra quando cantava, aquela alma gigantesca que se apoderava das pessoas... E tudo isso ficará gravado na memória", concluiu.
António Costa recorda a "forma plena de estar na vida"
O primeiro-ministro lamentou esta quarta-feira a morte da fadista Celeste Rodrigues, aos 95 anos, elogiou a forma "plena e livre" de estar na vida e disse esperar que a sua voz continue "a inspirar gerações".
Numa mensagem na sua conta oficial do Twitter, António Costa referiu-se à irmã de Amália Rodrigues como "querida amiga", recordando a sua "forma de estar no fado, plena e livre".
"A fadista Celeste Rodrigues, minha querida amiga, deixou-nos hoje. A sua forma de estar na vida era a sua forma de estar no fado, plena e livre. Que a sua voz e o seu exemplo continuem a inspirar gerações", lê-se no tweet do chefe do Governo.
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