Música com o clã Cherry e artes plásticas com o clã Saar. Cinema que sorri e cinema ao quilo. E um génio da pop.
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Comece-se a Arte do Dia com um assunto de família. A dinastia Cherry já vai em três gerações embrenhadas na música. Don Cherry andou décadas a dar liberdades ao jazz com o seu trompete. A enteada Neneh Cherry brilhou, e brilha, na pop. Dois meios-irmãos de Neneh, Eagle-Eye Cherry e Titiyo, também têm percurso na pop. E duas das três filhas de Neneh, fruto do casamento com o produtor Cameron McVey, não fugiram à sina sonora: primeiro foi Mabel, agora é a vez de Tyson. "Tuesday", audível hoje e nos restantes dias da semana, levita:
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A família Saar é bastante menos conhecida mas não menos merecedora de atenção. Só agora é que as colagens da artista americana Betye Saar, 94 anos, começam a receber o crédito e os aplausos devidos. Na exposição "Legends from Los Angeles", em curso no Crocker Art Museum, em Sacramento, Califórnia, aos seus trabalhos juntam-se obras das filhas Alison e Lezley. "The Paris Review" mostra um apanhado eloquente do talento que corre no clã.
"O estranho caso de Angélica", obra de 2010, inaugura pelas 18.30 horas de hoje o ciclo "Cinema e fotografia: visões espectrais", que até 29 de junho decorrerá em paralelo com a mostra "Manoel de Oliveira fotógrafo". Os alicerces do argumento, também da autoria de Manoel de Oliveira, remontam à década de 1950, mas passaram quase 60 anos até se reunirem as condições para contar a história de Isaac (interpretado por Ricardo Trêpa), um fotógrafo de passagem por Peso da Régua que é requisitado, de surpresa, para fotografar o cadáver de uma jovem, Angélica (Pilar Lopez de Ayala). Através da lente da máquina de Isaac, Angélica parece regressar por instantes e sorri. É um espetro que vai assombrar o fotógrafo daí em diante. A sessão de hoje também inclui a curta-metragem documental "101, à propôs de Manoel de Oliveira", que descreve a criação de "O estranho caso de Angélica". Uma realização do espanhol Luis Miñarro, que produziu o filme de Oliveira. O palco é a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto.
Num outro compartimento, bastante diferente, da casa do cinema, reside o produtor americano Randall Emmett. Uma máquina prodigiosa daqueles filmes que passam 20 vezes por mês nos canais de cabo. Desde 1999, Emmett entregou mais de 100 filmes tão-maus-que-são-mesmo-maus - mas também "O irlandês" de Martin Scorsese. A sua história, improvável, é contada no site "Vulture".
Num mundo mais decente, Dawn Richard já teria o estatuto de Prince, Kate Bush, Tricky ou David Bowie. É uma artista pop total, que sintetiza uma multiplicidade de estímulos, devolvendo-os como uma linguagem e visão novas, sem par. "Second line", álbum acabado de sair, é a enésima prova:
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