Chega esta quinta-feira às salas de cinema “No interior do casulo amarelo”, estreia na realização do vietnamita Thien An Pham. O drama foi premiado no Festival de Cannes 2023.
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Numa semana em que estreiam 11 filmes nas salas nacionais, mesmo o espectador mais frequente e avisado terá dificuldades na escolha.
Sabendo-se que os resultados de bilheteira do primeiro fim de semana condicionam a garantia de uma segunda semana de exibição, pelo menos nos grandes centros onde ainda há salas de estreia, haverá alguns “sacrificados” pelo caminho.
Seguramente uma das estreias mais desprotegidas desta semana, sem super-heróis nem estrelas com milhões de seguidores nas redes sociais, e vindo de uma cinematografia pouco conhecida, “No interior do casulo amarelo”, primeira longa-metragem do jovem vietnamita Thien An Pham, é, no entanto, a estreia que se aconselha mais a ver.
Estava certo o júri do Festival de Cannes 2023 ao atribuir-lhe a Caméra d’Or, que premeia a melhor primeira obra em todas as secções oficiais do certame francês.
O realizador conta-nos a história de Thien, um jovem citadino que, após a morte da cunhada, tem de tomar conta do sobrinho de cinco anos, partindo com ele para a aldeia onde nasceu, em busca do irmão e pai da criança, que há muito partira.
Por detrás de um relato de contornos universais, que poderia ser contado em qualquer outro lugar e com o qual todos nos podemos identificar, encontramos uma das raras obras do cinema contemporâneo com um olhar novo sobre o que é também o cinema: a arte de contar uma história.
Num mundo onde a imagem tanto se banalizou, o olhar de Pham é desconcertante, quase inacreditável para alguém da sua idade - somente 35 anos.
Desde o primeiro plano do filme que se percebe que por detrás se encontra alguém que pensa cinema – não há um único plano banal; tudo é uma lição de cinema enquanto arte.
Na vida que passa por detrás, nos rituais do quotidiano, na reflexão que nos permite sobre a dimensão do tempo – tanto no cinema como na vida –, na dualidade entre a quietude e o movimento, na confluência entre credos e culturas ou na simples observação da beleza da vida, mesmo na presença da morte, este filme é uma tremenda viagem espiritual.
E, no fim, não nos apetece sair do imenso interior protetor deste filme tão singular e recompensador.