A instalação de Marc Vilanova é uma das marcas da programação de aniversário do espaço cultural bracarense. Para ver até 1 de julho.
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Marc Vilanova (ES, 1991) nasceu na Catalunha e apresenta-se como um artista visual e sonoro. As suas instalações, performances e esculturas integram, muitas vezes, som e luz, numa produção que, conceptualmente, trabalha o cruzamento e os intervalos entre arte, ciência e tecnologia.
As suas obras abertas, na expressão usada por Umberto Eco (IT, 1932-2016) no livro publicado pela primeira vez em 1962, tem a poética da indeterminação formal da produção artística contemporânea, sendo um exercício de experimentação e de hipóteses sobre o também tempo e espaço de cruzamento e intervalo entre obra e públicos.
As obras de Vilanova têm sido apresentadas em festivais no Japão, EUA, Canadá, Brasil, Colômbia, Cuba, Irão, Taiwan, Coreia do Sul, Rússia e em muitos países da Europa, afirmando ainda essa condição global do contemporâneo com referenciais comuns e linguagens apreendidas para lá das identidades cristalizadas de cada território.
Terá sido por tudo isto que Marc Vilanova é um dos artistas que se junta à programação do gnration, em Braga, em ano de décimo aniversário daquela que é, nacional e internacionalmente, considerada como uma estrutura de criação e programação artística de referência nos campos da performance e exposição da música contemporânea e da relação entre arte e tecnologia.
Com direção artística de Luís Fernandes (PT, 1981) também ele músico e artista sonoro (fundador de bandas como peixe : avião, dos projetos The Astroboy, Landforms, e de Quest, com a pianista Joana Gama), fundador e diretor artístico do Festival Semibreve (nascido em 2011), o gnration apresenta uma programação regular onde sentimos uma coerência e um fio concutor como em poucos espaços e, simultaneamente, temos a oportunidade de conhecer e contactar com projetos e conceitos que desafiam os nossos lugares comuns das tangentes entre o que é do campo da arte ou da transcendência da metafísica e da sua negação, vulgo, ciência.
O gnration surge, com projeto de reabilitação e memória de um antigo quartel da GNR, sob o génio do arquiteto bracarense José Carvalho Araújo (PT, 1961), como ideia de Carlos Martins (PT, 1967) apresentada à Câmara Municipal de Braga por ocasião de Braga 2012, Capital Europeia da Juventude. Só abriria em 2013, como espaço de cultura e incubadora de empresas e de indústrias criativas. O projeto começa a ganhar forma, algum tempo depois de abrir, coincidindo com o convite feito a Luís Fernandes para a direção artística. Não sendo consensual enquanto projeto de arquitetura, talvez o concetualismo dos detalhes acabe por reforçar esse sentido de novidade e questionamento que marca a atividade do gnration.
A instalação "Cascade" de Marc Vilanova é exemplo da tendência e foi desenvolvida em contexto de residência artística no gnration, sendo a sua apresentação inédita. "Cascade" utiliza gravações de infrassons registadas nas quedas de água de Montmorency, Quebec, Canadá. Estas gravações ativam 88 altifalantes que são incapazes de as reproduzir, sendo a vibração transmitida por uma fibra ótima luminescente. As quedas de água são a única fonte contínua de infrassons que podemos encontrar na Natureza e, por exemplo, a sua deteção e memorização torna-se a base sensorial para as migrações de longa distância das aves.
A ação do Homem e a industrialização interferem na clareza destas frequências o que afeta os ciclos naturais. Neste sentido, a obra de Vilanova é também um alerta e a sua forma de ativismo, convidando-os à atenção a tudo o que nos rodeia e a sermos mais conscientes sobre a nossa pegada, sobre as consequências das nossas ações.
"Cascade", de Marc Vilanova
gnration
Praça Conde de Agrolongo, Braga
Até 1 de julho