O antigo primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres inicia a derradeira digressão na capital com uma récita única, esta quinta-feira no Tivoli. "Estou muito feliz de voltar a Portugal", confessou ao JN.
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Considerado um dos melhores bailarinos do mundo, o brasileiro Thiago Soares escolheu Lisboa para lançar a sua derradeira digressão internacional, com o espetáculo "Último ato". A apresentação é esta quinta-feira à noite, no Teatro Tivoli, em Lisboa - o mesmo palco em que encenou o esgotado "Duelo", em 2019.
Nesta despedida das grandes digressões, o artista, que foi durante 13 anos o principal bailarino do Royal Ballet de Londres, traz um espetáculo diferente de tudo que já fez. Um evento "mais teatral", porém com a linguagem da dança, explica, vinda das mais diferentes origens, do samba ao urbano e clássico. É também um espetáculo onde há mais interatividade com o público, e onde este até ajuda a decidir o final.
Ao JN, o bailarino que primeiro começou a dançar na Escola de Circo no Rio de Janeiro com 9 anos, lembra como é costumeiro dizer que a despedida de um bailarino da dança é como uma sua primeira morte - e no entanto, este seu "Último ato" é para ele um momento positivo.
"Este espetáculo é um pouco uma ironia disso. Porque é também, de alguma forma, um recomeço de um outro formato de como eu me apresentava. Eu fui sempre um bailarino de companhias e de um repertório clássico, tradicional, erudito. E este formato é um outro lugar para mim. É uma outra maneira de me apresentar, uma outra maneira de me comunicar com o público e por isso de alguma forma eu sinto que é um recomeço", explica.
Um regresso muito feliz
Depois de ter estado em Portugal com um espetáculo muito aclamado, Thiago tentou regressar várias vezes durante a pandemia, sem o conseguir. Este regresso a um país que tanto o acarinha numa fase de despedida acaba, assim, por ser, também paradoxalmente, a altura certa com o espetáculo certo.
"Eu tentei voltar com o "Roots" várias vezes, mas não conseguimos. E o tempo daquele espetáculo passou, a produção dispersou. De repente, surgiu o "Último ato" e o momento certo de voltar para Portugal. Acho que quando tem que ser, é, as energias da vida vão determinando. E estou muito feliz de voltar a Portugal, onde tive um momento muito alegre, muito especial, antes", frisa.
Neste último ato há então também dança urbana, sendo que foi nela que o dançarino Thiago primeiro "nasceu" - e a partir dela fez depois a sua transição para o ballet.
"Na minha escola de dança, no subúrbio do Rio de Janeiro, eles estavam à procura de rapazes, porque tinham poucos meninos e muitas meninas. E ofereceram-me uma bolsa de estudos", explica. Passaria a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, conquistando depois a Medalha de Prata no Concurso Internacional de Dança de Paris.
Em 2001, participou do Concurso Internacional do Ballet Bolshoi, na Rússia, e conquistou a medalha de ouro, disputada entre mais de 270 candidatos. Foi depois convidado para estagiar no Balé Kirov, tornando-se o segundo estrangeiro a integrar a companhia em 100 anos de história.
"Sinto-me abençoado e privilegiado"
Entre tantos outros momentos altos, quase 30 anos deles, o bailarino admite que se sente "abençoado e privilegiado", ao ponto de ser difícil destacar alguns. "Eu tenho uma história muito especial com o Royal Ballet de Londres, que foi a minha casa por muitos anos, então é um lugar que toca meu coração, que mexe comigo e que me motiva muito. Mas eu nunca me vou esquecer da minha primeira performance no Alla Scalla di Milano", frisa. O Teatro Argentino de La Plata, o Bolshoi, o Teatro dell"Opera di Roma foram alguns de outros palcos icónicos por onde passou.
Depois de uma digressão que se prevê longa, o futuro deverá agora passar pela direção artística - o brasileiro é já o diretor criativo do Ballet de Monterrey, no México - mas também pela coreografia e até audiovisual. "Estou começar num grande projeto [do audiovisual] que penso que vai ser algo bem especial", frisa sem adiantar detalhes. A quem está hoje a tentar uma carreira na dança, Thiago Soares deixa o seu recado: "quero que o meu legado de alguma maneira seja esse. O fazer pensar que é possível. Alguém foi lá, fez. Como eu também olhei para outros grandes artistas e colegas que me inspiraram também".