O primeiro concerto da edição 2024 do festival Ponte d’Lima soou como um “caterpillar” sonoro, a demolir a placidez do recinto verdejante junto ao rio Lima.
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Baleia Baleia Baleia, de Manuel Molarinho (baixo e voz) e Ricardo Cabral (bateria), tomou de assalto o palco do festival Ponte d’Lima ainda à luz do dia, a rasgar com um repertório onde, segundo os próprios, cabem muitas sonoridades, influências e todo o imaginário da dupla.
“Somos uma banda que se juntou a partir de um estúdio que o Ricardo tinha em Cedofeita (no Porto), de onde fomos gentrificados recentemente, que era o ‘quatro escuro’ e ele ia convidando os músicos que ia conhecendo para fazer jam. A partir de certa altura, só aparecia eu e começamos a ver quanto barulho é que duas pessoas conseguiam fazer sozinhas”, contou Manuel Molarinho ao "Jornal de Notícias", no intervalo entre o check-sound e o concerto de abertura do festival Ponte d’ Lima.
“Juntámos um baixo, uma quantidade gigante de amplificadores, uma bateria, muita energia e letras sobre tudo o que queremos dizer e fomos começando a tocar por aí. E entretanto nunca mais paramos. Entretanto, já vamos em duzentos e tal concertos desde 2016”.
A dupla, que atuou no palco 2 (o único em atividade esta quinta-feira), prepara-se para lançar um álbum ao vivo e para gravar o seu terceiro álbum. Segundo Ricardo e Manuel, o trabalho dos Baleia mistura “influências musicais”, que podem ir de Sonic Youth, a banda favorita de Molarinho, até Pink Floyd. Além de "séries, livros, pessoas” e “muita bonecada". "Rick e Morty, Happy Tree Friends, BoJack Horseman e Big Mouth. Gostamos muito de bonecada. Somos eternas crianças”, acrescentou Manuel.
Sorte dos amigos foi terem sido escalados para abrir um festival com algumas das suas "bandas favoritas” no cartaz. “Osees é talvez uma das nossas maiores referências coletivas. Na realidade, este festival junta muitas bandas que, pessoalmente, já queria ver. Osees, Omar Souleyman, que também acabei por nunca conseguir apanhar... (Chk, Chk, Chk) é uma banda que já oiço há 15 anos, também nunca apanhei, e Shame, que é das cenas novas que mais queria ver. Portanto, para nós foi assim…alinharam-se os astros”, disse o vocalista.
O público também se alinhou com a banda inaugural do evento de Ponte de Lima. E seguiu já noite fechada com Ana Lua Caiano, PONGO, Conjunto Corona e o DJ Matko Destrokanov.
A usufruir de um festival em família, pela primeira vez, encontrámos o casal Laurinda e Cristovão Fernandes, com os filhos Mariana e Gaspar. Vivem em Prado, Braga e demoraram “mais de duas horas” a montar a tenda familiar, no parque de campismo junto ao recinto da Expolima, onde planearam “passar quatro dias de férias”.
A irmã e a mãe já tinham estado no ano passado em Ponte de Lima para ver bandas como Capitão Fausto e Cassete Pirata, e regressaram todos agora para Mão Morta, Conjunto Corona, Pongo, Kamikaze e Ana Lua Caiano. A mãe Laurinda ri-se: “Somos uma família que ouve tudo. Eletrónica, música clássica…viemos no carro a ouvir Pavarotti”.
Mariana mostra conhecimentos musicais. Já Gaspar só quer é divertir-se. “Destas bandas não conheço quase nenhuma. O meu estilo de música é diferente do da minha família, mas vim aqui senão ficava sozinho em casa. O que for festa eu vou, não quero saber”, comentou.
O JN encontrou os irmãos Fernandes a sair do parque de campismo à procura de comprar água, que, curiosamente, é a bebida oficial do festival. E de uma marca de Paredes de Coura, a Salutis. Coincidência ou não, também por ali andava João Carvalho, diretor da Ritmos, que há 30 anos organiza o Festival de Paredes de Coura, cuja próxima edição arranca dentro de dias (14 a 17 de agosto). “Vim ver o local porque ainda não tinha tido oportunidade. Este ano quero vir ao festival, porque tem bandas muito interessantes. Quero muito ver os Shame e Osees e resolvi parar aqui hoje para cumprimentar o meu amigo Jorge [Dias, produtor do evento]”, disse.
Portanto, com temperaturas de verão a pedir hidratação com água de Coura ou outra bebida qualquer, a festa segue em Ponte de Lima, amanhã com Marquise, Catarina Silva, Kamikazes, Unsafe Space Garden, Mão Morta, Shame, KOKOKO! e !!! (Chk Chk Chk). E sábado com Vivax, Gator, The Alligator, Youth Yard, Surma, The Last Internationale, Glockenwise, Omar Souleyman e Osees.-