"Liam e Noel desentenderam-se, a banda já não existe". Foi com estas palavras que, entre assobios do público, o diretor do festival Rock en Seine de Paris anunciou a separação do grupo britânico Oasis, a 28 de agosto de 2009.
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Uma discussão nos bastidores deu origem a 15 anos de guerra fria entre os irmãos Liam e Noel Gallagher, vocalista e guitarrista do grupo de "britpop". Um conflito que terminou esta terça-feira, com os Oasis a anunciar que vão regressar aos palcos em 2025.
"Naquela altura, a área VIP a que a imprensa tinha acesso ficava ao lado dos camarins, separada por uma divisória de bambu. A certa altura, ouvimos barulhos estranhos, gritos, uma espécie de estrondo", recordou Olivier Nuc, repórter do jornal francês "Le Figaro". "Três minutos depois, vejo um dos organizadores a correr pela área VIP. Tinha acontecido alguma coisa. E foi aí que o boato começou a ganhar força: os Oasis não vão atuar", contou.
A altercação entre Liam e Noel começou no camarim. A meio do desentendimento, partiram uma guitarra que, em 2022, foi leiloada por 385 mil euros.
"Um pouco de tristeza e um grande alívio"
Salomon Hazot, um dos diretores do festival, subiu ao palco com o microfone na mão para fazer um dos anúncios mais surreais da história do rock.
"Informo que, infelizmente, Liam e Noel discutiram. A banda deixou de existir. Podem aceder ao site dos Oasis onde Noel explica o que aconteceu e o fim do trabalho com o Liam", explicou, enquanto o público gritava perplexo: "não é verdade!", "é uma piada!".
"Já estou cansada deles. Como é que são capazes de tratar os fãs desta forma?", lamentou na altura Katie Even, uma advogada de 25 anos que gastou 500 euros para viajar de Dublin e assistir ao festival. Naquela mesma noite, Noel apresentou uma explicação no site da banda.
"É com um pouco de tristeza e um grande alívio que informo que vou deixar os Oasis. As pessoas vão escrever e dizer o que quiserem, mas é impossível continuar a trabalhar com Liam. Peço desculpa a quem comprou bilhete", afirmou o guitarrista e compositor da banda.
O então diretor-geral do festival, François Missonnier, deu explicações à imprensa: "Por motivos que desconhecemos, começou uma discussão entre os dois irmãos. Noel foi embora do festival e ninguém conseguiu convencê-lo a voltar".
Anos depois, o então responsável pela comunicação e atual diretor do Rock en Seine, Matthieu Ducos, relembra estes momentos de alvoroço: "quando descobrimos que Noel tinha saído do festival, achamos que era uma brincadeira", conta.
"Festival amaldiçoado"
Este não foi o primeiro desastre do festival parisiense. Nas duas edições anteriores, a cantora britânica Amy Winehouse, que faleceu em 2011, também cancelou a sua atuação à última da hora. "O Rock en Seine, antes dos Oasis, já começava a ter a reputação de ser um festival amaldiçoado", notou o jornalista Olivier Nuc. E a noite do fim dos Oasis solidificou essa ideia.
Para tentar contornar a polémica, os organizadores pediram ao grupo britânico Madness, que já tinha atuado, para subir novamente ao palco principal. A banda respondeu "Ok, mas quanto nos pagam?", relembra Nuc. Na época, o jornal "Le Parisien" relatava "uma quantia de 120 mil euros, para além dos 50 mil pagos pelo primeiro concerto".
"Estamos devastados com o que aconteceu (...). Claro que não, não estamos nada devastados", brincou Suggs, vocalista do Madness, em palco.
Quinze anos depois, e com os irmãos Gallaghers a alcançarem a paz, pelo menos por enquanto, o festival parisiense candidatou-se a "receber os Oasis" em palco. Seria "apoteótico um concerto de regresso como este", sonha Ducos.