Arca, Pulp, Mannequin Pussy, SZA, Tirzah: músicas essenciais para sobreviver ao fim
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Vamos aos festivais de música para quê? Vamos, entre outras coisas, em busca da catarse - são purificadores, cientificamente, os efeitos que essa descarga emocional nos traz -, e vamos à procura, evidentemente, de explicações para a vida.
Dentro dos parques de diversões que são os festivais, nuns momentos procuramos a música que nos arremessa a memória e o corpo para o local e o tempo em que fomos mais felizes, que é a cápsula da juventude, claro, quando tudo é ainda absolutamente possível e somos literalmente imortais, e noutros momentos aquilo que procuramos é o arrebatamento do novo, daquilo que nunca ouvimos e que não sabíamos que nos era tão vital.
Simultaneamente especialista em cardápios de coisas novas e na gratificação memorial dos nossos melhores passados, o Primavera Sound Porto, que terminou este fim de semana com cifras recordistas de 105 mil espectadores, voltou a encher-nos o coração de novidades, enquanto premiava o bom gosto da nossa anamnese.
Sem qualquer pretensão de hierarquia que não a imprescindibilidade, eis um “best of” daquilo que desfilou pelos nossos corpos, olhos e ouvidos no Primavera Sound e que continuava a gravitar.
Arca e as suas deflagrações eletrónicas cheias de escarpas, ameaças e beleza lunar. Ouça-se: “Time”, “Tiro” e “Rakata”, que soaram grandiloquentes ao vivo. Mannequin Pussy e “I got heaven”: este punk eufónico e sexy é para nunca mais largar. Pulp e “Common people”: como é possível que uma canção de 1995 possa continuar a ter tal frescura alimentar? - e como é possível não chorar depois de ouvir ali no meio de 35 mil pessoas tamanha detonação pop crepuscular? Tirzah e “Gladly”: a generosidade avassaladora do amor e dos gestos mais simples, em eletro-experimental. E SZA: ouvir “Kill Bill” em casa passa a ser obrigatório porque foi a única canção que a diva neo-soul não nos entregou bem.