“Ti Coragem & Filhos, Lda” estreia esta sexta-feira e é a nova produção da companhia de Coimbra O Teatrão.
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A companhia de teatro O Teatrão estreia hoje a sua nova peça “Ti Coragem & Filhos, Lda”, uma adaptação de “Mãe Coragem e seus filhos”, de Bertolt Brecht, e que pretende pôr o público a refletir sobre o tema da guerra. O espetáculo, já esgotado para os primeiros dois dias, inicia as comemorações dos 30 anos da companhia de Coimbra, que se celebram em março de 2024, e que durarão até ao final do próximo ano, com uma reflexão sobre o movimento neo-realista em Portugal.
Em palco estão 12 elementos, nove atores e três músicos, e um texto mais adaptado à atualidade, apesar de alguns elementos escritos por Brecht, em 1939, ainda se manterem. “Quando Brecht escreveu, havia um momento de grande transformação da sociedade. De certa forma também vivemos uma grande transformação social, não sabemos ainda para onde, mas já há quebras de conquistas sociais no mundo ocidental. A obra permite refletir e socializar as nossas angústias”, defende o encenador, Marco António Rodrigues.
Outros temas, como o empreendedorismo, as questões associativas e sindicais e a precariezação do trabalho também estão incluídos na adaptação, de Jorge Louraço Figueira. “Isso está contemplado na adaptação, embora já existam alguns pontos na obra do Brecht”, lembra o encenador.
Reposições e reflexão
“Ti Coragem e Filhos, Lda” estará em cena até 12 de novembro na Oficina Municipal do Teatro, sendo acompanhada por outras iniciativas como mesas redondas, um ciclo de cinema sobre Brecht ou uma oficina de encenação e interpretação. “Há várias atividades que complementam o espetáculo, que é uma vontade do Teatrão de refletir sobre o tema. Temos a pretensão que o público saia daqui a fazer a sua reflexão”, defende Marco António Rodrigues.
De janeiro a março, O Teatrão vai marcar as comemorações do 30º aniversário com a reposição de espetáculos anteriores, como “D. Quixote (de Coimbra)”, “Single Singers Bar” ou “A Grande Emissão do Mundo Português”, que será levada às freguesias do concelho. “Vamos reunir outros atores, reencontrar colegas de estrada e de profissão”, destaca a diretora da companhia, Isabel Craveiro.
Segue-se um projeto de discussão e reflexão sobre o movimento neo-realista português, à volta da adaptação de “Constantino, guardador de vacas e sonhos”, de Alves Redol, publicado em 1975. “Juntando os 50 anos do 25 de abril e os 30 do Teatrão, queremos reunir um projeto mais vasto, que discute o movimento neo-realista em Portugal, a forma como é visto, que me parece desprezado pela maioria das pessoas, e isso está ligado à forma como vemos a revolução. Falar de um país atrasado, de um país de dificuldades, de um país dos trabalhadores, é uma coisa que e as pessoas não achem que seja contemporânea”, considera Isabel Craveiro.