Reunião do Conselho de Fundadores e grupo de reflexão, esta sexta-feira, dominada pelo novo modelo de governação e sustentabilidade da instituição
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No cargo de diretor artístico da Casa da Música (CdM) há 14 anos, António Jorge Pacheco é a face visível dos 18 anos de uma instituição que atinge a maioridade, mas não sem dores de crescimento. Interrogado pelo JN sobre a sua continuidade no cargo, o antigo assessor de Pedro Burmester - que chegou a ser criticado por este pela duração dos seus mandatos - foi enigmático. "Nunca foi minha intenção eternizar-me no lugar, mas isto obedece a certos procedimentos". Pacheco revelou que foi "várias vezes sondado para dirigir congéneres internacionais da CdM, ao longo dos anos", mas que nunca o fez por "estar comprometido com o projeto, o sentido de dever e por sentir que a missão estava sempre incompleta".
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Mecenas e sustentabilidade
A CdM celebra a maioridade no dia 14 de abril. Para assinalar a efeméride, construiu um programa especial de 15 dias, com 18 eventos.
A apresentação da festa foi feita ontem, no dia anterior à reunião do grupo de reflexão, criado pela tutela, para repensar o projeto com o Conselho de Fundadores da instituição. Tudo se precipitou em outubro, depois de uma série de denúncias no site anónimo Fugas da Casa, de irregularidades alegadamente cometidas entre 2009 e 2021, em que terão sido violadas várias leis do Código de Contratos Públicos e o Estatuto do Mecenato, com o alegado benefício comercial dos seus mecenas. Acusações refutadas pela administração, dizendo que "evidenciam erros técnicos de análise e incorreto enquadramento jurídico".
Nas linhas estratégicas da ação da administração para o triénio de 2022-2024, Rui Amorim de Sousa, presidente do Conselho de Administração da CdM, definiu quatro linhas orientadoras: reforçar a ambição do projeto artístico; aumentar a relevância nacional e internacional da CdM; valorizar as pessoas nas suas áreas de atuação e melhorar a organização e assegurar a sustentabilidade.
Este último ponto passará por "aproximar mais entidades privadas", numa instituição que é subsidiada a 70% pelo Estado (10 milhões anuais do Ministério da Cultura) onde a "leitura de receitas é feita permanentemente".
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Reunião do grupo de trabalho
Na reunião do grupo de trabalho com o Conselho de Fundadores, que decorre hoje, onde estará presente o ministro da Cultura, serão "apresentadas algumas das preocupações. Será apenas um primeiro balanço, que só deverá ter conclusão em novembro deste ano", elucidou o presidente do Conselho de Administração.
Na missiva enviada pelo ministro Pedro Adão e Silva, Rui Moreira e Luísa Salgueiro (autarcas do Porto e Matosinhos) ao presidente do Conselho de Fundadores, Valente de Oliveira, a que o JN teve acesso, foram formuladas um conjunto de questões para serem objeto de análise.
Entre estas, é pedida uma audição de peritos externos e de representantes de outros serviços, instituições, personalidades e entidades de reconhecido mérito, como foi o caso da inserção por parte do Ministério da Cultura do músico Mário Barreiros.
Entre outras solicitações foi também pedido que fosse ouvida a comissão de trabalhadores e a direção artística (a atual e a anterior). O grupo pediu esclarecimentos, sobre os modelos de gestão que existiram até hoje na Casa da Música, e conclusões claras sobre as vantagens e os inconvenientes de cada um.
Entre outros itens, perguntam se o Conselho de Administração deveria, por determinação estatutária, incluir um membro com experiência profissional ligada à música e "qual o equilíbrio entre gestores empresariais e gestores culturais".
Num novo cargo de direção artística, a missiva sugere uma limitação de mandatos, e há também uma proposta de intenção de divisão entre música erudita e não erudita.
Outra das questões da missiva é "a relação entre entidades públicas e privadas, como tem evoluído a relação entre o Estado, as autarquias e as empresas privadas na Fundação Casa da Música" e se "existe um diagnóstico que explique o recuo dos privados no financiamento".
Aquelas questões deverão ter hoje à noite algumas respostas.
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3,5 milhões em 18 anos
Salvaguardando que "não foi tudo um caminho de rosas", em especial nos períodos da troika e na pandemia, Rui Amorim de Sousa destacou os cinco agrupamentos residente, os cinco mil concertos e mais de 18 mil atividades do serviço educativo e os mais de 3,5 milhões de espectadores, em 18 anos.
A festa da maioridade dura 15 dias e arranca a 14 de abril, com um concerto da Orquestra Sinfónica e Leopold Hager na despedida do maestro, e a festa "Um elétrico chamado 18" com o DJ Branko.