Casa da Música reabre esta segunda-feira as portas, ao fim de três meses, com um concerto especial. Entusiasmo impera entre os membros da Orquestra Sinfónica do Porto.
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Em 74 anos de história, a Orquestra Sinfónica do Porto já atuou numa infinidade de locais, horários e dias da semana. Mas nunca o fez, curiosamente, à segunda-feira. Até hoje.
"Não quisemos perder o momento de assinalar simbolicamente esta reabertura das salas e responder "presente"", justifica Rui Pereira, coordenador da Orquestra Sinfónica do Porto/Casa da Música (OSPCdM).
O momento vai ser assinalado com um concerto especial (ler caixa) em que foram implementadas várias medidas para que a segurança, dos músicos e dos espectadores, esteja salvaguardada. Assim, além do uso de máscaras em palco por parte dos músicos (exceto o maestro, o solista convidado e os instrumentistas de sopro), o palco e o espaçamento foram aumentados e até as estantes das partituras deixam de ser partilhadas. Mas não só. Para minimizar a concentração de músicos em espaços fechados, foram construídos novos camarins e intensificadas quer a testagem quer a higienização de lugares.
Os espectadores também vão notar algumas diferenças. Se a redução da capacidade da sala para metade já era conhecida, tal como a inutilização das as duas primeiras filas do auditório, há que contar ainda com circuitos alternados para a entrada e saída e o fecho temporário dos bares de apoio.
"Temos uma preocupação máxima com a segurança de todos", sublinha Rui Pereira, expectante com a reação do público após uma ausência tão prolongada. A sua esperança é a de que seja ainda mais intensa do que a ocorrida na primeira reabertura, há um ano, quando uma longa ovação marcou a entrada em palco da OSPCdM. "Foi comovente", recorda.
"Turbilhão de emoções"
Do lado dos músicos, há "um turbilhão de emoções", mas a alegria é mesmo o sentimento dominante. Tão evidente que nem as máscaras conseguem ocultar os sorrisos.
Trombone baixo da orquestra, Nuno Martins afirma que a vontade do regresso é enorme e supera até a ansiedade: "Somos uma equipa e, tal como acontece com atletas de alta competição, sentimos logo quando nos tiram o palco".
Para trás ficou um confinamento "difícil de suportar". Devido "à incerteza", mas também porque foi necessário "manter os níveis de motivação elevados".
O entusiasmo que se vive é extensivo aos músicos exteriores ao agrupamento. Convidado há uma semana para atuar no concerto de hoje, o violoncelista Pavel Gomziakov reforça que "manter o otimismo é fundamental" para enfrentar os reveses. "Pouco a pouco, vai voltar tudo ao normal, mas até lá é preciso que as pessoas percam o medo de voltar às salas", diz o solista, a viver em Portugal há mais de uma década.
Do regresso de Sokolov à revisitação das obras de Mozart e Schubert
À emoção do regresso dos concertos, os melómanos podem ainda somar outra boa notícia: para assinalar a reabertura, a Casa da Música planeou para hoje, às 21 horas, um concerto da sua Orquestra Sinfónica, com direção de Michael Sanderling e a participação especial do violoncelista russo (naturalizado português) Pavel Gomziakov. Do programa fazem parte obras de Malcolm Arnold, Édouard Lalo e Jacques Ibert. A restante oferta da semana também vai ser pródiga em atrativos. Na quinta-feira, às 19.30 horas, a Sala Suggia volta a acolher o lendário pianista Grigory Sokolov para um recital de pendor romântico, dominado pela interpretação de obras de Chopin e Rachmaninoff.
A orquestra sinfónica residente volta à ação na sexta, com um concerto que reúne composições de Luigi Nono e Arnold Schoenberg. No dia seguinte é a vez do Remix Ensemble executar obras de Bruno Maderna e Schoenberg. Por fim, no domingo, o destaque recai sobre o classicismo vienense, num concerto dedicado a Mozart e Schubert.