A 20.ª edição do Super Bock Super Rock chegou ao fim na madrugada deste domingo, com os britânicos Kasabian a levarem ao delírio as 24 mil pessoas que se encontravam no recinto. Segundo a organização, ao longo dos três dias passaram pela Herdade do Cabeço da Flauta, no Meco, mais de 86 mil pessoas.
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O "48:13" ao fundo do palco indicava ao que vinham os britânicos Kasabian, com novo disco para apresentar em solo português. A banda de Tom Meighan e Sergio Pizzorno lançou-se logo a "Stevie" ou "eez-eh", single do novo trabalho, deixando a multidão em êxtase com canções que ora se situam no filão rock, ora deslizam para batidas eletrónicas que ordenam a massa humana a dançar. Um casamento perfeito para cativar o público durante uma hora e meia de espetáculo, que encontrou em Meighan um anfitrião incansável.
Ancorados em "48:13", os Kasabian não deixaram, contudo, de brindar o público com canções dos primeiros trabalhos, como "L.S.F. (Lost Souls Forever)" ou "Club Foot". "Praise You", de Fatboy Slim, surgiu a caminho do encore, com os Kasabian a dizerem adeus ao som de "All You Need is Love", dos Beatles.
Foi preciso chegar-se ao terceiro, e último, dia de festival para que o rock que levanta pó e gente no ar conquistasse com mérito o palco principal. E fazia falta ver tamanha vibração na zona nobre: crowsurfing, braços sincronizados a varrer o espaço, adrenalina total junto às grades. Sobre todas as cabeças, lasers a iluminar a multidão em sintonia com os quilowatts descarregados em palco. Foi assim em Kasabian mas também em Foals, a banda que os antecedeu no palco principal.
Os compatriotas Foals entraram com artilharia pesada na Herdade do Cabeço da Flauta e saíram glorificados desta terceira passagem por Portugal. "My Number", êxito retumbante, foi o gatilho para que o público se deixasse conquistar aos primeiros minutos do concerto, ritmo dançável e letra entoada em uníssono.
O último dia do festival arrancou com uma homenagem a Lou Reed, o compositor dos Velvet Underground desaparecido em outubro do ano passado e autor de algumas das mais respeitáveis obras da história da música popular.
Coordenado por Zé Pedro, o tributo ao americano contou com um naipe considerável de músicos portugueses: Lena D'Água veio cantar "Sunday Morning", Paulo Furtado esteve em "Femme Fatale", Tomás Wallenstein, dos Capitão Fausto, interpretou "Venus in Furs" e Jorge Palma veio para "Perfect Day". Pelo meio houve "Sweet Jane", "White Light White Heat" e "Vicious". O final, com todos em palco, deu-se com "Walk on the Wild Side".
Foi uma homenagem sincera e sentida, sem grandes pretensões para além disso: recordar um grande homem, divulgar a sua obra. Não houve propriamente versões excecionais até porque o território Velvet/Reed é matéria inultrapassável - ninguém consegue aproximar-se da excelência das originais. Em tempos idos, Jim O'Rourke conseguiu, ainda assim, gravar uma releitura cativante de "Venus in Furs" - é algo que merece ser descoberto.
E no meio de toda esta avalanche de informação é urgente encontrar o torpedo punk garage dos Skaters. Estrearam-se por cá, deram um concerto tremendo, foi amor à primeira audição. Devem explodir não tarda. Lançaram em fevereiro o primeiro álbum ("Manhattan"). A maior parte das vezes - mas nem sempre - parecem uma espécie de Strokes mais selvagens e com um vocalista que até sabe cantar. Também lembram os Clash, sobretudo na pose em palco, mas também nos laivos de reggae que a espaços ali se intrometem. Fazem grandes canções. Afigura-se urgente ouvir aí pela net peças como a vertiginosa "Nice Hat", "This Much I Care", "Schemers" e, sobretudo, uma que se candidata a tornar-se num clássico do rock'n'roll: "I Wanna Dance (but I Don't Know How)".
No Meco tocaram tudo isso e ainda forneceram "uma que toda a gente conhece e que se chama Smoke on the Water", começando, de imediato, com "This Charming Man", dos Smiths. Não fazem um som novo, pois não, mas têm uma clara propensão para criar melodias a abarrotar de estrondo, frases a convocar o estampido, guitarras em cascata. Despertam o lado selvagem de cada um de nós. Tudo isto foi recebido no palco EDP com um som perfeito e num volume altíssimo, a condizer e potenciar o deslumbre. Despediram-se com uma tempestade punk com "Kiss Off", dos Violent Femmes, no meio.
Depois de tamanha chapada deliciosa, o concerto dos Kills soube a muito pouco ou quase nada. A banda de Alison Mosshart e Jamie Hince até nem fez fraca figura mas a fasquia vinha demasiado alta.
Em dia de balanços, Jwana Godinho, da Música no Coração, avançou que ao longo dos três dias de Super Bock Super Rock passaram pela Herdade do Cabeço da Flauta mais de 86 mil espetadores, numa edição que correspondeu às expectativas da organização. O segundo dia foi o mais concorrido, com 35 mil pessoas, e aquele que mais dores de cabeça deu à organização do festival devido à queda de chuva que causou problemas técnicos no palco EDP.
"Estivemos atentos durante todo o dia às condições meteorológicas, mas houve aquele imprevisto da chuva que teve como consequência o atraso do concerto de Eddie Vedder", explicou. Segundo a responsável pela contratação das bandas, o vocalista dos Pearl Jam queria que o público assistisse ao concerto de Cat Power - de quem é amigo - decidindo, por isso, atrasar o seu espetáculo uma hora.
Para Jwana Godinho, a edição deste ano teve no concerto de Eddie Vedder um dos seus pontos altos. "Eddie Vedder superou todas as expectativas. Foi um concerto único". Acerca da colaboração com o músico português Paulo Furtado (Legendary Tigerman), que o acompanhou em palco numa versão de "Masters of War", de Bob Dylan, explicou: "O Eddie Vedder já conhecia o trabalho do Legendary Tigerman, viu-o em palco, ficou maravilhado e convidou-o para atuar quando se encontraram nos camarins".