Lisbon Film Festival traz a Portugal uma enxurrada de artistas, incluindo Victor Erice, Elia Suleiman, Nuri Bilge Ceylan, Gina Gershon, Laurie Anderson, Kyle Eastwood e muitos mais. Concerto com um androide que canta é dos acontecimentos mais singulares. Começa tudo esta sexta-feira e prossegue até dia 19.
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Depois de passagens pelo Estoril e por Sintra, o Lisbon & Estoril Film Festival, certame criado e idealizado pelo produtor cinemtográfico Paulo Branco concentra-se em Lisboa, para a sua 17.ª edição, com um programa recheado de estrelas, bom cinema e não só.
Como qualquer festival de cinema, uma atenção especial é dada à seção competitiva. Para começar, pelo seu júri, presidido pelo cineasta palestiniano Elia Suleiman que, além de uma obra respeitável e muito singular, deixou sempre as marcas da sua origem nos filmes que foi fazendo. Estará em Lisboa numa das alturas mais trágicas, como muitas outras no passado, do seu povo.
Suleiman será acompanhado, no júri da competição oficial, pela atriz e realizadora francesa Fanny Ardant, pelo realizador e fotógrafo jamaico-americano Khallik Allah, pelo escritor, poeta e dramaturgo búlgaro Giorgi Gospodinov, pelo músico, compositor e produtor indo-britânico Nitin Shawney, pela escritora norte-americana Rachel Kushner e pela artista portuguesa Adriana Molder.
Atenção à obra-prima de Victor Erice
Sem nos estarmos a substituir a este júri, a sua tarefa poderá estar facilitada pela seleção a concurso de um dos melhores filmes não só do ano, mas dos últimos e muitos anos, o espanhol “Cerrar los ojos”, do mestre e eremita madrileno Victor Erice.
Obra-prima sobre a memória e a identidade, primeira obra de ficção de Erice dos últimos 30 anos, o filme do autor de “O espírito da Coleia” e “El sur” passa no festival antes da estreia nacional, marcada para o início do próximo mês.
No dia 16, noite grande no cinema Nimas, em Lisboa, com uma conversa entre o realizadro espanhol e o português Pedro Costa, que já tinham assinado dois episódios de “Centro Histórico”, produzido para Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012 – os outros dois episódios foram assinados por Manoel de Oliveira e pelo finlandês Aki Kaurismaki.
Radu Jude e Cristi Puiu na competição
Dos dez filmes em competição destacam-se ainda obras como “Do not expect too much from the end of the world”, do romeno Radu Jude, “MMXX”, de outro grande realizador romeno, Cristi Puiu, “O processo Goldman”, do francês Cédric Kahn, “Os delinquentes”, do argentino Rodrigo Moreno, ou o português “Ubu”, estreia mundial da primeira longa-metragem de ficção de Paulo Abreu, adaptação da peça de Alfred Jerry, uma sátira política que explora a realidade da política mundial.
Outro filme português será exibido pela primeira vez, na seção Descobertas do Lisbon Film Festival. Trata-se de “Dulcineia”, de Artur Serra Araújo, com António Parra e Alba Baptista.
Trata-se da história de um músico de jazz que, depois de anos de vida desregrada em Marrocos regressa ao Porto. Mas o que pensa vir a ser um momento calmo da sua vida torna-se num pesadelo quando, ao assistir a um concerto, depara-se com um tema apresentado como inédito mas que é igual ao que tem há muitos anos na sua cabeça…
Coppola e outras joias fora de concurso
É no entanto na seleção oficial fora de competição que se encontram algumas das jóias do festival, numa recolha do melhor que os grandes festivais de cinema do mundo apresentaram ao longo do ano, em muitos casos antecedendo estreias próximas no nosso país.
É aqui que se pode ver obras como “Poor things”, de Yorgos Lanthimo, “Anatomia de uma queda”, de Justine Triet, Palma de Ouro de Cannes, “O corno do centeio”, coprodução portuguesa da basca Jaione Camborda, “Afire”, de Christian Petzold, “Evil does not existe”, de Ryusuke Hamaguchi, “Hit man”, de Richard Linklater, “May december”, de Todd Haynes, “Io capitano”, de Matteo Garrone, “Priscilla”, de Sofia Coppola, “Green border”, de Agnieszka Holland, “Perfect day” e “Anselm”, ambos de Wim Wenders, “Memory”, de Michel Franco ou “O pub de Old Oak”, de Ken Loach.
O festival propõe ainda retrospetivas do turco Nuri Bilge Ceylan, também já vencedor de uma Palma de Ouro de Cannes e que estará presente para apresentar o seu último filme, “About dry grasses”, e de Clint Eastwood, que será representado plelo seu filho, o ator e compositor Kyle Eastwood.
Um andróide que vai cantar
Confirmando o agora Lisbon Film Festival como uma dos mais importantes espaços de convívio de cineastas e artistas no geral, no nosso país, estão previstos inúmeros eventos, de que há a destacar o Concerto Android Aria – Seeds of Prophecy, onde o compositor e pianista Keiichiro Shibuya será acompanhado por um andróide que canta e é dotado de inteligência artificial (Teatro Tivoli, dia 18, 18 horas), o cine-concerto de “Metropolis”, de Fritz Lang (Teatro Tivoli, dia 14, 21 horas), a exposição “Éloge de l’Image – Le livre d’Image de Jean-Luc Godard” (Palácio Sinel de Cordes, até 2 de dezembro) ou a peça “Quarteto”, de Heiner Müller, interpretada em palco por Fanny Ardant e Gérard Dépardieu.
Estão ainda previstas masterclasses de Ryusuke Hamaguchi e Leos Carax, uma conversa entre a compositora e artista multimédia Laurie Anderson e a atriz Gina Geshon em torno do tema Inteligência Artificial e a Criação Artística e o lançamento do livro “Pedro Costa, os quartos do Cineasta”, de Jacques Rancière. Muito e bom cinema, e não só, para ver em Lisboa, até ao próximo dia 19.