Há dez filmes para ver até ao próximo sábado na sala de Culturgest.
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Numa altura em que uma parte do mundo árabe se encontra em guerra, que a existência do estado da Palestina está ameaçada, e que em muitos países europeus se reage com violência a uma emigração que chega preferencialmente do norte de África – em Portugal, essa mesma violência é cada vez mais real, embora a nossa emigração tenha prioritariamente outras origens – é de saudar a realização da primeira edição do LAFF – Lisboa Arab Film Festival.
Embora não se perceba muito bem porque se decidiu utilizar uma designação em inglês, esta coprodução com a Culturgest – Fundação Caixa Geral de Depósitos e o apoio, entre outras instituições, da Câmara Municipal e do Turismo de Lisboa é uma necessária janela para este mundo, através do olhar dos seus próprios cineastas, contrapondo assim a sua própria visão à nossa perspetiva necessariamente europeia e ocidental.
O festival, não competitivo, tem início hoje ao fim da tarde (19h30), com uma cerimónia marroquina de chá e especialidades marroquinas, a que se seguirá a exibição de “Everybody Loves Touda”, coprodução entre Marrocos e França, com realização de Nabil Ayouch.
O argumentista, produtor e realizador marroquino, de que já vimos ans nossas salas filmes como “Muito Amadas”, que causou escândalo no seu país, ou “Alto e Bom Som – A Batida de Casablanca”, mostra em Lisboa o seu último filme, já deste ano, escrito em parceria com a sua esposa, a também cineasta Maryam Touzani, o drama de uma cantora tradicional, habituada a apresentar-se em pequenos bares da sua cidade da província, e que planeia partir para Casablanca, em busca de reconhecimento e de uma vida melhor para si e para o seu filho.
Serão assim dez filmes a ver até ao próximo sábado, originários de países como Argélia, Arábia Saudita, Tunísia, Palestina, Líbano e Jordânia, mostrando a diversidade e a riqueza de um cinema que se tem vindo a afirmar, no circuito de festivais e nas salas de cinema de todo o mundo.
Nas palavras da organização desta iniciativa, o festival recorda ainda que “os laços históricos entre Portugal e o mundo árabe são profundos”, mas que “a riqueza do mundo árabe contemporâneo tem ainda muito por revelar.” Salienta-se, ainda que, “numa era em que a compreensão cultural e a diversidade são mais cruciais do que nunca”, o festival “pretende contribuir para o diálogo entre as culturas, oferecendo uma visão das sociedades, culturas e realidades árabes de hoje, longe dos estereótipos da cobertura mediática.”
O Lisbon Arab Film Festival tem a sua cerimónia de encerramento no próximo sábado, dia 5 (21h00), com a exibição de “Inshallah a Boy”, coprodução entre Jordânia, Arábia Saudita, Catar e França, e realização de Amjad Al Rasheed. O filme, que estreou na Semana da Crítica de Cannes, centra-se na história de uma viúva que finge estar
grávida de um rapaz, para salvar a sua filha e a sua casa de um familiar que pretende utilizar as leis patriarcais das heranças em vigor no país.
Para amanhã, quarta-feira dia 2, estão previstas as exibições de “Six Pieds sur Terre” (19h00) e “Abou Leila” (21h30). O primeiro, produzido em França, tem realização de Karim Bensalah, filho de pai argelino e mãe brasileira, e conta a história do filho de um antigo diplomata argelino que, depois de uma vida em vários países, se vê em Lyon à beira da expulsão. Quanto a este último, é um thriller de Amin Sidi-Boumédiène, coproduzido entre a Argélia, a França e o Catar, estreou também na Semana da Crítica de Cannes e passa-se em 1994, durante a Década Negra da guerra civil argelina.
Na quinta-feira dia 3 serão exibidos mais dois filmes, “Mandoob – Night Courier” (18h45) e “Les Meutes” (21h30). “Mandoob”, de Ali Kalthami, que teve exibição no Festival de Toronto, é uma produção saudita, passada em Riade, onde um homem com problemas mentais executa uma corrida contra o tempo para salvar o seu pai doente. Quanto a “Les Meutes”, o filme de Kamal Lazraq, produzido entre Marrocos, França e Bélgica, é um drama criminal passado nos subúrbios de Casablanca, sobre dois pequenos marginais, pai e filho a trabalhar para o crime organizado.
Mais dois filmes serão ainda exibidos na sexta-feira, dia 4, “A Peine j’Ouvre les Yeux” (19h00) e “Bye Bye Tiberias” (21h30). Drama musical de Leila Bouzid, coprodução entre Tunísia, França e Bélgica, o primeiro destes filmes, datado já de 2015, passa-se alguns meses antes da revolução no país, contando o drama de uma jovem que quer cantar numa banda rock com posições políticas, mas que tem de enfrentar o desejo da mãe de que venha a ser médica.
Quanto a “Bye Bye Tiberias”, é um documentário palestiniano, em coprodução com França e Bélgica. Com assinatura de Lina Soualem, trata-se da evocação da carreira da mãe da realizadora, a bem conhecida atriz Hiam Abbass. Anos depois de sair da sua pequena localidade na Palestina, mãe e filha regressam a casa , num documentário íntimo sobre quatro gerações de mulheres e o legado de separação, familiar e territorial.