Filme sobre família de surdos-mudos da Apple TV+ vence Oscar de Melhor Filme.
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Havia alguns indícios nas últimas horas que tal pudesse vir a acontecer e as primeiras estatuetas a serem distribuídas durante a noite apontaram desde logo para isso. Este não iria ser o ano do "Poder do Cão", o western neozelandês que, em 12 nomeações, apenas venceria a mais esperada, melhor realização para Jane Campion.
Pelo contrário, não só "Dune", do canadiano Denis Villeneuve, arrecadou quase tudo o que era das categorias chamadas técnicas (som, efeitos visuais, desenho de produção, fotografia, montagem e música), num total de seis estatuetas, como o Óscar mais esperado, o de Melhor Filme do Ano, foi para "CODA", também vencedor nas categorias de argumento adaptado e ator secundário.
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O filme, distribuído pela Apple TV+ ganhou à Netflix, produtora e distribuidora mundial de "O Poder do Cão", mostrando que as plataformas de streaming estão aí e que, em alguns casos, e infelizmente, temos de ver no pequeno ecrã lá de casa o que ainda se chama de Cinema. "CODA" (siglas que denomina Filha de Adultos Surdos) centra-se na vida de uma adolescente que vive o dilema de continuar a apoiar os seus pais, surdos-mudos, ou ir atrás da sua vida de sonho, neste caso marcada pela paixão pela música.
O grande momento da noite - e ainda se discute se foi ou não encenado - foi a reação de Will Smith à piada do apresentador Chris Rock em relação à calvície da esposa, Jada Pinketh-Smith. O ator levantou-se do seu lugar, subiu ao palco, esbofeteou Chris Rock, voltou ao seu lugar e disse em voz alta, por duas vezes, a proibida "F-word". Seguramente um momento que vai ficar para a história dos Oscars e da própria televisão norte-americana.
Will Smith, minutos mais tarde galardoado com o Oscar de melhor ator, pela interpretação do pai das irmãs Serena e Venus Williams, em "King Richard: Para Além do Jogo", pediu desculpa à Academia e fez um discurso emocionado, com o rosto repleto de lágrimas, sobre a defesa dos valores da família, missão divina que lhe teria sido confiada.
Mais terreno e racional, mas não menos empenhado, foi o discurso de aceitação do Oscar de melhor atriz por Jessica Chastain, defendendo os direitos da comunidade LGBTI. A atriz foi reconhecida pela sua interpretação em "Os Olhos de Tammy Faye", sobre a ascensão e queda da lendária tele-evangelista Tammy Faye Bakker, o que a obrigou a várias horas diárias de maquilhagem para uma assombrosa transformação física.
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Como sempre, os momentos musicais animaram a noite, iniciada com a interpretação de Beyoncé da canção nomeada "Be Alive", ainda no exterior do recinto e continuada pela noite dentro, já em palco, por exemplo com a vencedora "No Time to Die", do filme homónimo de James Bond - cujos 60 anos da série foram evocados numa montagem alusiva - , cantada por Billie Eilish, acompanhada pelo irmão, Finneas I"Connell.
As três apresentadoras, Regina Hall, Amy Schumer e Wanda Sykes, estiveram sempre à altura, com um humor bem coordenado e algumas efeméridas permitiram a presença em palco de lendas vividas do cinema americano: Francis Ford Coppola, Robert De Niro e Al Pacino, pelos 50 anos de "O Padrinho", Woody Harrelson, Wesley Snipes e Rosie Perez pelos 30 anso de "Branco Não Sabe Meter", Samuel L. Jackson, Uma Thurman e John Travolta pelos 28 anos de "Pulp Fiction". Uma muito debilitada Liza Minnelli apresentou, com Lady Gaga, o principal Oscar da noite, numa altura em que se celebram também os 60 anos de "Cabaret - Adeus Berlim".
Com os Oscars de Animação e do Filme Internacional a irem para os filmes esperados, respetivamente "Encanto", da Disney e o japonês "Drive My Car", de Ryusuke Hamaguchi, a cerimónia dos Oscars não esqueceu a Ucrânia. Sem referência ao facto, Mila Kunis, nascida na Ucrânia, foi uma das apresentadoras da noite, Coppola referiu brevemente o conflito e a Academia, que não autorizou o pedido de Zelensky para fazer uma intervenção ao vivo, fez um minuto de silêncio pelas vítimas do conflito.
OS VENCEDORES
Melhor Filme: CODA
Melhor Realização: Jane Campion (O Poder do Cão)
Melhor Argumento Original: Kenneth Branagh (Belfast)
Melhor Argumento Adaptado: Sian Heder (CODA)
Melhor Ator: Will Smith (King Richard: Para Além do Jogo)
Melhor Atriz: Jessica Chastain (Os Olhos de Tammy Faye)
Melhor Ator Secundário: Troy Kotsur (CODA)
Melhor Atriz Secundária: Ariana de Bose (West Side Story)
Melhor Animação: Encanto
Melhor Filme Internacional: Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi