Coliseu Porto recebe sete novas sessões em 2023. O regresso é assinalado já amanhã.
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A força anímica da música clássica foi sempre motivo de grandes paixões, mas, para os ouvidos e corações menos permeáveis, há quem tenha uma fórmula para a mensagem chegar. Essa receita, como numa prescrição médica para o espírito, chama-se Concertos Promenade. O programa está de volta ao Coliseu Porto, já amanhã, às 11 horas.
Este receituário musical teve a primeira temporada em 2005 e decorreu ininterruptamente até 2014. Após um hiato de sete anos, regressou em 2021, na versão 2.0, atingindo 130 mil espectadores.
O ciclo "é indissociável do Coliseu e cumpre uma missão social muito importante: fazer chegar a música ao espírito das pessoas", explica ao JN o maestro Cesário Costa, responsável pela direção artística. Prova desse efeito afetivo, e transgeracional, o maestro relata que, numa das últimas sessões, uma espectadora abordou-o no fim do recital para lhe contar que tinha o coração a transbordar - assistira aos primeiros concertos com o filho e que agora trazia o neto.
Novos intérpretes
Na fórmula de sucesso, dedicada a todos os públicos e idades, cada concerto tem uma obra de repertório da música clássica, um agrupamento e um maestro diferenciado. Além da obra ser comentada, há também diferentes interações.
Parte da missão dos Concertos Promenade é também "dar espaço a intérpretes e jovens solistas de tocarem uma obra emblemática, como é o caso da Esmae, da Artave e outras", explica o maestro. Cada um dos agrupamentos é escolhido por convite de Cesário Costa, obedecendo a um critério único de qualidade.
A inaugurar 2023 será interpretada a obra "Quadros de uma exposição", pela Orquestra Clássica de Espinho, com direção do maestro Pedro Neves. "É uma das obras mais emblemáticas para orquestra" e que surge da visita do compositor Modest Mussorgsky, em 1874, a uma galeria de arte em São Petersburgo para ver as pinturas do amigo Viktor Hartmannda. O compositor nunca viria a conhecer o êxito da sua criação, atingido pela orquestração de Maurice Ravel, em 1922.
O concerto de amanhã será comentado por Susana Henriques, diretora pedagógica do Conservatório de Música da Metropolitana durante dez anos, e diretora artística da Piccola Orquestra Metropolitana desde 2012.
Vivaldi, Ravel e outros
Este recital é o primeiro de sete que vão desfilar pelo Coliseu em 2023, incluindo outras obras emblemáticas como "As quatro estações", de Vivaldi, ou "A minha mãe ganso", de Ravel (ler ao lado). Os comentários serão do musicólogo Jorge Castro Ribeiro e o design multimédia de Sara Botelho.
No início de cada concerto, há um "Quiz musical", a que o público responde através de uma app no telemóvel, com uma dezena de perguntas. "É um meio de agarrar a atenção do público, criar interação e tornar a música clássica mais apetecível para todos", diz o maestro.
Os Concertos Promenade são, desde 2022, sessões descontraídas, adaptadas a todas as pessoas, integrando com especial cuidado pessoas com défice de atenção intelectual, condição de espetro autista, que sofram de alterações sensoriais ou de comunicação, assim como famílias com crianças pequenas.
Agenda
19 de março - "O Carnaval dos animais", de Saint-Saens
Ensemble Instrumental
Solistas: Luís Duarte e Lígia Madeira
Direção Musical: Cesário Costa
Trata-se de uma suíte em 14 andamentos que apresenta o desfile de diferentes animais. Pensada para ser tocada numa terça-feira de Carnaval, esta "fantasia musical zoológica" tornou-se uma das obras mais famosas do compositor francês.
29 de abril - "As quatro estações", de Vivaldi
Ludovice Ensemble
Solista: Alfia Bakieva
Direção Musical: Fernando Miguel Jalôto
"As quatro estações", de Vivaldi, são um conjunto de quatro concertos para violino inspirados em cada uma das estações do ano. O canto dos pássaros e o murmúrio das fontes na primavera, o calor tórrido do verão, o baile das vindimas no outono e a neve e a chuva do inverno.
21 de maio - "A minha mãe ganso", de Ravel
Orquestra Sinfónica
Artave
"A minha mãe ganso" é uma peça escrita em 1910, pelo compositor francês Maurice Ravel, e foi inspirada nos contos de Charles Perrault e da Condessa d"Aulnoy. Conta histórias agora clássicas como a "A bela adormecida", o "Polegarzinho" ou a "Bela e o monstro".