Encontro anual de escritores na Póvoa de Varzim chega ao fim este domingo. Última mesa de debate decorre em Lisboa. JN acompanhou derradeira sessão na junta de Freguesia de Terroso.
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O Correntes d’Escritas - Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, os 50 anos do 25 de Abril, a ditadura, a liberdade, os blogues, os programas curriculares e a literatura nas escolas: estes temas juntaram à mesa Maria do Rosário Pedreira e Vera dos Reis Valente numa conversa com leitores. Na sala da Junta, na rural freguesia de Terroso, na Póvoa de Varzim, dez tímidos rostos, mas o Correntes é assim, como o próprio festival literário: cada desafio começa com pequenos passos e acaba em casa cheia. A festa da literatura fecha este domingo com a última mesa em Lisboa.
“A escrita é sempre uma forma de dialogarmos connosco”, diz Vera dos Reis Valente, pseudónimo de Sara de Almeida Leite, a autora das coleções infantojuvenis “O Mundo da Inês” e “Os Mega B.A.Y.T.E.S.”.
Em pequena vendia histórias por um escudo, agora, após mais de dez livros para crianças, publica o primeiro romance, “Amar em caso de emergência”.
Maria do Rosário Pedreira, que escreve “como terapia”, editou mais de 40 livros juvenis (coleções “O Clube das Chaves” e “Detetive Maravilhas”), escreveu um romance, que vê como “acidente de percurso” e, já tarde, lançou-se na poesia. Em 2023, “O meu corpo humano” ganhou o Prémio Literário Correntes d’Escritas.
Vê com agrado a boa fase dos livros – quando já poucos compram jornais e os programas culturais são “cada vez menos e emitidos a horas impróprias”.
Descentralizar é preciso
A ida a Terroso faz parte do projeto do festival – o Correntes Itinerantes – e tem uma ideia: descentralizar a cultura, levando-a às freguesias do concelho. 11 sessões, sem arrastar multidões, mas com a certeza de que também o Correntes começou a medo com 40 escritores, quase como encontros de amigos, com “meia dúzia na plateia”.
Agora, são dez dias, 120 escritores, há teatro, exposições, cinema, e a verdade é que os 485 lugares do Cineteatro Garrett são quase sempre poucos. Só o ambiente familiar e os afetos são os mesmos.
Guilherme Salgado tem 13 anos. Gosta de ler, mas tem consciência de que a maior parte dos seus amigos não lê. É o mais jovem na sala, mas não se acanha e, da plateia, atira a pergunta para “um milhão de euros”: “O que devia mudar nas escolas para os alunos lerem mais?”
Mudar é preciso
“O método é tradicional e está desfasado das necessidades e interesses dos alunos”, diz Maria do Rosário Pedreira. “Sinto que há professores que tentam, mas é necessário mudar. Trata-se os livros como livros informativos. É muito triste. Pode-se fazer um exame sobre ‘Os Maias’ sem nunca o ter lido”, junta Sara. As duas escritoras têm blogues. Adaptaram-se aos tempos. A escola tem que fazer o mesmo, mas não é fácil.
O Correntes despediu-se da Póvoa com a entrega de prémios. A mexicana Fernanda Melchor venceu o galardão principal. Carlos Matos foi o vencedor do galardão juvenil. O Prémio Fundação Dr. Luís Rainha, para obras sobre a Póvoa, foi para Gisela Silva e o Prémio Luís Sepúlveda para o 4.º0 A da EB1 Durão Barroso, de Armamar.
Este domingo à tarde, a finalizar o festival literário, há uma mesa de debate em Lisboa, às 19.30 horas, no Instituto Cervantes.