Concerto surpresa para 100 pessoas põe americanos Crocodiles a tocar na casa da dona Laurinda e do senhor António. "Oh, gostamos muito", diz ela, que tem 86 anos.
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Não saberiam certamente, o senhor António e a dona Laurinda, ele tem 91 anos, ela 86, que os californianos Crocodiles estavam ali no seu pátio a cantar o infame êxito de Elton Motello de 1977 "Jet boy, jet girl" (os The Damned também têm uma versão), que fala de uma relação entre um rapaz de 15 anos e um homem mais velho em que ele promete (ou ele ameaça?) que vai fazer dele uma rapariga.
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Pormenores estilísticos sem qualquer importância para os donos da Casa do Gonte, aldeia do Covelo, freguesia do Casteleiro, terras altas de Paredes de Coura, que esta sexta-feira abriram o jardim e o pátio da sua casa de pedra para o concerto surpresa do dia das Vodafone Music Sessions - são um petisco extra da operadora que sustenta o festival há quatro anos, são uma "blind date" oferecida a 100 campistas, nunca anunciada, há um autocarro que pára em determinado sítio a determinada hora e leva os 100 primeiros a entrar, ansiosos e suspensos, para o acontecimento íntimo.
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É um "happening" valioso, sobretudo pela proximidade que dá dos artistas, Brandon Welchez, voz, Charles Rowell na guitarra, Marco Gonzalez no baixo acústico (faltou a Robin Eisenberg das teclas e faltou a bateria), eles nas escadinhas do senhor António e da dona Laurinda, humanos como nós, Brandon de óculos de sol e a fumar a cantar, e nós a um metro ou dois deles, a sentir-lhes o bafo, sentados no jardim ao sol, quase em cima das camélias e das hortênsias de dona Laurinda, a bater palmas e a entoar compassados com eles o "ooh, uh, oh" da ignóbil e colorida canção de revivalismo pós-punk.
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"Eles têm gosto, muito gosto em receber", diz Manuel Pereira Barreiro, vizinho do caseiro casal no Gonte, que ali veio espreitar o acontecimento estrangeiro e cumprimentava, todo lampeiro, toda a gente com as suas mãos calorosos de carvalho. "Oh, nós é que agradecemos", diz a dona Laurinda ainda sentadinha com o homem ao lado, também ela posta no jardim, cabelinho branco fofo, olhos vivos, as mãos laçadas no regaço, "ficamos muito contentes, nunca aqui vimos nada assim".