Quando um país tem de recorrer ao apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), quais são os efeitos secundários desse resgate? Essa é a história que nos conta o sul-coreano Jaha Koo, em "Cuckoo", peça que está hoje em destaque no Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP).
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Com recurso a três panelas de cozer arroz chamadas Hana, Duri e Seri - esta última é a mais avançada, mas aparentemente com menos capacidades para cumprir o seu propósito inicial -, o protagonista parte de um cenário macroeconómico (com vários vídeos) para nos contar o que lhe sucede a nível particular.
Aos seus 37 anos, um número que se repete quando se fala do número de minutos entre cada suicídio no seu país, viu como toda a construção de prosperidade e felicidade, dois conceitos "brancos", se desmoronaram. Numa análise a jusante, começa a questionar-se por que razão, na sua infância, saía de casa com a avó com um saco de plástico na cabeça. Percebe agora, na vida adulta, que era para escapar ao gás lacrimogéneo durante os imensos motins e protestos que se sucederam.
A analogia parece simples: o que faz uma panela de cozer? Aumenta a pressão, mas passado o máximo da temperatura, transforma os grãos rijos em brandos. Talvez seja esse um dos principais efeitos nefastos.
Quando Jaha Koo se instalou na Europa - é curioso: nesse momento, passa a falar-se inglês no espetáculo - sentiu-se desenraizado e sem entender os códigos sociais.
Carinhosamente, o seu pai telefona-lhe e a forma de lhe demonstrar afeto é perguntar se comeu. A pergunta engloba muitas outras: se está bem de saúde, se está triste, se pensa em voltar? O pai não quer que ele regresse, sabe que isso pode significar o seu fim, como o dos seus seis amigos mais próximos que escolheram não viver.
Essa forma de fim de vida é recorrente na Coreia, Japão e noutros países asiáticos. Dentro dessa estatística, a forma mais usual passa pelas linhas do metro... "Cuckoo" é um espetáculo que apresenta um dispositivo dramatúrgico simples, mas muitíssimo eficaz. v
"Cuckoo"
Teatro rivoli, pORTO
hOJE, 19.30 HORAS