O Palácio Ducal de Génova apresenta uma exposição com cerca de 300 obras de Man Ray, um dos génios criativos do século XX.
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O Palácio Ducal de Génova, a capital da Ligúria, região italiana na costa norte ocidental, acolhe, até 9 de julho a exposição "Man Ray. Opere 1912 - 1975" que reúne mais de 300 obras deste que é um dos mais relevantes nomes do Dadaísmo e do Surrealismo. A biografia de Man Ray é também uma viagem por importantes capítulos da nossa História coletiva que se revelam de atualidade e com especial interesse para a compreensão do que hoje vivemos.
A família de Emmanuel Radnitzky (EUA, 1890 - França, 1976), conhecido como Man Ray, era judia. O pai era natural de Kiev, Ucrânia e a mãe de Minsk, Bielorrússia, à época partes do Império Russo. A presença de judeus no Império Russo é milenar e os seus vastos territórios hospedavam a mais numerosa comunidade judaica do mundo, que protagonizaria uma grande diáspora religiosa, sobretudo porque os seus direitos não eram reconhecidos como os dos demais cidadãos do império.
A partir de 1880, sobretudo com Alexandre III (1845-1944), ondas de pogroms anti semitistas varreram várias regiões do império, durante décadas, levando mais de dois milhões de judeus a fugirem da Rússia entre 1880 e 1920, principalmente para os Estados Unidos. Esta família terá sido um dos exemplos e Emmanuel já nasce em Filadélfia. A família cedo se muda para Nova Iorque e, em 1909, Emmanuel ingressa na The Social Center Academy of Art. Em 1912 inicia a sua carreira artística, assumindo, então, o pseudónimo de Man Ray. A fotografia e a pintura foram as tecnologias com que despertou para uma produção desde logo marcada por uma poética que se caracteriza pela ironia, sensualidade, vontade de experimentar e de quebrar dogmas, criando novas estéticas.
Em 1915, os franceses Marcel Duchamp (1867-1968) e Francis Picabia (1879-1953) mudam-se para Nova Iorque, conhecem Ray, passando o Dadaísmo a ter nesta cidade franco desenvolvimento. Na exploração e liberdade que o Dadá permite, Man Ray experimenta o Ready-made e a colagem, usa a tinta spray na pintura e, sobretudo, dedica horas a pesquisar e a aperfeiçoar os seus métodos na fotografia. Recordar que, formalmente, o Manifesto Dadaísta foi escrito por Hugo Ball (1886-1927) em 14 de julho de 1916 e lido no mesmo dia no Cabaret Voltaire, clube noturno em Zurique, na Suiça, para onde também fugiram muitos artistas e intelectuais durante a I Guerra Mundial, tratando-se da primeira publicação do movimento.
Em 1921, depois do fim da relação com a poeta belga Adon Lacroix (1887-1975), Man Ray muda-se com Marcel Duchamp para Paris, passando ambos a integrar o movimento dadaísta francês. O epicentro volta a ser a cidade-luz que, em 1924, irá assistir à publicação do Manifesto Surrealista pelo escritor francês André Breton (1896-1966). Man Ray deixa-se influenciar pela revolução surrealista, pelas ideias da associação livre das imagens e dos objetos e pelo princípio do automatismo psíquico e, em 1924, produz "Le Violon d"Ingres", uma das suas obras mais famosas, disponível nesta extraordinária exposição.
Outro destaque seria para o tabuleiro de xadrez desenvolvido pelo artista, que se tornou célebre mais recentemente pela sua utilização na série "O gambito de dama" da Netflix. Nesta exposição vemos uma seleção de fotografias de notáveis que usaram este tabuleiro, entre os quais o amigo Marcel Duchamp.
"Man Ray. Opere 1912 - 1975" trata-se de uma exposição monográfica, dividida em sete núcleos, que traça cronologicamente a biografia do artista, destacando os aspetos inovadores e originais de seu trabalho dentro dos contextos culturais em que este operou. Também é possível apreciar a atividade de Man Ray enquanto realizador de cinema de vanguarda, com a exibição de filmes históricos como "Le Retour à la raison" (1923), "Emak Bakia" (1926), "L'Étoile de mer" (1928) e "Les Mystères du château du dé" (1929).
Man Ray é um dos génios criativos do século XX e esta exposição é uma viagem pelo seu universo plástico e, sobretudo, pelo seu pensamento e visão vanguardista de um mundo em mudança. A não perder!
"Man Ray. Opere 1912 - 1975"
Palácio Ducal de Génova
Até 9 de julho