Duas semanas com 16 espetáculos no Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Viana do Castelo. Voltou a criação de expressão ibérica
Corpo do artigo
É na tensão entre "o medo de voltar à vida e a avidez de o fazer" que se realiza a 45.ª edição do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), que após um ano de interregno motivado pela covid-19, em 2020, e outro em formato híbrido, com vários espetáculos apresentados digitalmente, ainda por causa das limitações sanitárias, regressa agora em pleno com 16 espetáculos distribuídos por 12 dias e 11 salas nas cidades do Porto, Matosinhos, Vila Nova de Gaia e Viana do Castelo. Quatro propostas internacionais, de Espanha, Chile, Argentina e Brasil, três estreias nacionais e sete estreias absolutas preenchem o cartaz.
Será uma edição pautada pelo "luto, disforia e prazer na procura de futuros necessários e possíveis", diz Gonçalo Amorim, diretor do certame que reúne, nesta edição, nomes e companhias como Albano Jerónimo, Teresa Coutinho, Miguel Bonneville & Sofia Dinger, Marta Pazos, Marina Otero, Guillermo Calderón, Palmilha Dentada, Teatro do Frio ou Apuro.
"Há uma marca de inquietação nos espetáculos", diz Amorim: "Os artistas passaram muito tempo na sombra - há várias referências aos estúdios e salas de ensaio, que encerram possibilidades teatrais riquíssimas. Nota-se também a presença de imagens excessivas, que são sintomas da dificuldade de voltar à vida. Há muita fisicalidade, futurismo e poesia. A sociedade precisa do pensamento artístico, é algo que ajuda a enfrentar tempos difíceis e desafiantes."
A força da literatura
Outra das marcas do FITEI 2022 é a importância dada ao texto, em detrimento de abordagens mais concetuais ou pós-dramáticas, explica Gonçalo Amorim: "Penso na palavra como o início do pensamento: há atenção dada às novas dramaturgias (por exemplo, "Blasted", de Sarah Cane, encenado por João Telmo; ou "Fuck me", da dramaturga argentina Marina Otero) e a peças canónicas ("Othello", de Shakespeare, trabalhado por Marta Pazos, ou "Orlando", de Virgínia Woolf, adaptado por Cláudia Lucas Chéu). Mas são sempre formas contemporâneas de olhar a força da literatura".
Além dos espetáculos, haverá nesta edição do festival uma série de oficinas teatrais conduzidas por alguns dos criadores presentes, como Guillermo Calderón, Marta Pazos ou Pilar Ruiz, num segmento intitulado "Isto não é uma escola FITEI"; três residências artísticas, em que Nuno Nunes, Pedro Galiza e Rodrigo Terra iniciam o processo de novas montagens a apresentar na edição de 2023; e ainda concertos surpresa à saída de vários espetáculos. É tempo de voltar a encher as salas de teatro.
Destaques
"O primeiro sol"
Sofia Dinger & Miguel Bonneville
13 de maio, mala voadora (Porto)
Espetáculo para resistentes. Inicia-se ao crepúsculo e termina com a alvorada, numa maratona de dez horas onde se discorre sobre sombras, luz ou destino.
"Orlando"
Albano Jerónimo
12 a 14 de maio, Teatro Rivoli (Porto)
Reflexão sobre as "questões de género e as ondas de violência que estas originam" a partir da visão de Cláudia Lucas Chéu sobre o texto de Virgínia Woolf. Interpretado, entre outros, por Eduardo Madeira, Pedro Lacerda e Rita Loureiro.
"Os heróis que não aterram nas ilhas dos contos"
Rui Spranger/Apuro
13 e 14 de maio, Teatro Constantino Nery (Matosinhos)
História de amor desenhada no contexto da Guerra das Malvinas. Texto de Pilar Ruiz, dramaturga de Buenos Aires que participará em oficinas e masterclasses.
"Dragón"
Guillermo Calderón
14 e 15 de maio, Teatro São João (Porto)
Com dramaturgia e direção do chileno Guillermo Calderón, o espetáculo aborda um momento de rutura no seio de um coletivo artístico e as estratégias usadas para superar, ou não, esse conflito.
"Othello"
Marta Pazos/Voadora
21 e 22 de maio, Teatro São João
Fernando Epelde adapta o clássico de Shakespeare para a visão cénica de Marta Pazos, talento em ascensão em Espanha, vencedora de vários prémios Max, galardões destinados às artes do palco.