Peso nacional nas obras mais procuradas no ano passado ascende a 52,5%. Dia do Livro Português assinala-se esta sexta-feira.
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Num ano terrível para o setor editorial e livreiro como foi o de 2020, com uma queda acumulada de 17%, também houve espaço para notícias menos sombrias. Uma das poucas ilações positivas é a do peso que os livros de escritores portugueses têm no total das obras mais vendidas.
Segundo as tabelas de vendas de quatro das principais redes livreiras (Fnac, Bertrand, Almedina e Wook), há 21 livros nacionais nos respetivos top 10, o que equivale a 52,5%. Nesse lote de autores, há de tudo um pouco: os crónicos best-sellers (José Rodrigues dos Santos, Isabel Stilwell ou Raul Minh"Alma), fenómenos de popularidade televisiva (Cristina Ferreira e Ricardo Araújo Pereira), mas também surpresas absolutas, como foi o caso de Alexandra Vasconcelos, autora de "O poder do jejum intermitente", livro que deu origem a vários sucedâneos. E nem só as modas de ocasião e as leituras ligeiras atraíram leitores, como o demonstram dois dos títulos representados: "Rezar de olhos abertos", do cardeal e poeta José Tolentino Mendonça, e "Sentir e saber", do neurocientista António Damásio.
No dia em que o livro português assinala o seu dia, o presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) - a entidade que instituiu esta data, há mais de uma década - qualifica os resultados de "muito interessantes". "Os números revelam a forte proximidade entre os escritores portugueses e os leitores. Urge retomar, e até aprofundar, essa dinâmica quando os efeitos da pandemia se desvanecerem", afirmou ao JN José Jorge Letria.
Traduções crescem
Por muita esperança que haja numa retoma a médio prazo, as perspetivas imediatas do líder da SPA, "um combativo pessimista" como se autointitula, não são as melhores. Os planos de publicação da generalidade das editoras sofreram mudanças profundas no espaço de um ano. Entre suspensões, adiamentos e cancelamentos, a capacidade de investimento decresceu de forma significativa, o que leva o responsável da cooperativa a temer pelo futuro imediato dos jovens autores, muito provavelmente as principais vítimas da situação atual.
Menos nefastas, no entender de José Jorge Letria, são as perspetivas de crescimento dos livros portugueses no mercado internacional. As traduções tornaram-se comuns na última década e, ao contrário do que acontecia, não se limitam aos consagrados. "Há um conjunto de fatores que explica esse interesse, mas os principais são a ação do Instituto Camões e a capacidade de atração da literatura portuguesa", adiantou.
Sem cerimónias que assinalem a data de hoje, a SPA optou por marcar a efeméride com a publicação de dois livros: uma entrevista com José Pacheco Pereira e uma compilação de 30 depoimentos de mulheres ligadas à Cultura.