Autores portugueses e estrangeiros lançam obras sobre as várias facetas dos filmes nacionais.
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Apesar de nunca ter sido um segmento muito ativo por parte das editoras nacionais e apesar de o momento atual não ser o mais propício a publicações de risco, o livro sobre cinema tem conhecido nos últimos tempos uma enorme dinâmica. Assinalam-se, sobretudo, obras de autores portugueses sobre o próprio cinema nacional.
Fica assim bem visível que o pensamento crítico e o lançamento de teses sobre o cinema adquire uma dimensão semelhante à de outros países pioneiros nesta área, equivalendo-se a uma cinematografia na vanguarda em termos de experimentação e de liberdade de expressão.
"Projetar a Ordem - Cinema do Povo e Propaganda Salazarista 1935-1954" (Os pássaros, 2020) dá continuidade ao trabalho da investigadora Maria do Carmo Piçarra nesta área. Da forma crítica e exaustiva a que a autora nos habituou, traça-se uma narrativa sobre o período em que, através do cinema ambulante, os responsáveis do regime levaram o cinema de propaganda às populações mais isoladas do país, sem esquecer, no entanto, os centros urbanos.
Teorias sobre o cinema
Numa ótica distinta, "Espectros do Cinema - Manoel de Oliveira e João Pedro Rodrigues" (Sistema Solar, 2020) é um ensaio de José Bértolo sobre a possibilidade de o cinema destes autores se deter na figura do fantasma, atendendo ao "funcionamento das suas narrativas de amor, loucura e morte, bem como nos seres que as protagonizam, votados a uma existência liminar, entre o mundo dos mortos e dos vivos".
Publicação da Curtas Metragens CLR (2020), editado por Daniel Ribas e Paulo Cunha, "Um novo olhar sobre o cinema português do século vinte e um" colige intervenções de autores portugueses e estrangeiros, o que permite uma perspetiva sobre a forma como o nosso cinema é visto lá fora. Na publicação, também disponível em inglês e anunciada como "volume 1", vários ensaístas, programadores e curadores debruçam-se sobre várias áreas do cinema, do narrativo ao experimental, da ficção e do documentário à animação.
Obra mais sui generis, "Imitações da vida - Cinema clássico americano" (Book Builders, 2020) tem como organizadores José Bértolo, Fernando Guerreiro e Clara Rowland e define-se como "Ensaios para Mário Jorge Torres", professor de literatura e cinema durante décadas na Faculdade de Letras de Lisboa. Apaixonado pelo melodrama americano - o título do livro é uma homenagem a "Imitação da vida", de Douglas Sirk - sugere aqui a antigos alunos e a cinéfilos que com ele conviveram nas sessões da Gulbenkian e da Cinemateca textos que vão da análise fílmica à recordação mais impressionista.
Cinemateca com várias edições no prelo
A Cinemateca Portuguesa, com uma larga tradição de publicação de livros de cinema, nomeadamente de apoio aos seus ciclos mais importantes, está a preparar o lançamento de duas obras, uma sobre Luís Miguel Cintra, outra sobre a sua coleção de filmes coloniais, obra póstuma da investigadora Joana Pimentel. Está garantida também a continuidade de "Escritos de Cinema", de João Bénard da Costa, de que já saíram três dos nove volumes previstos.