Digital provocou mudança de paradigma e desmaterializou venda ilegal de ingressos. ASAE atenta à revenda de entradas após loucura gerada em torno do concerto dos Coldplay.
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O mediatismo das ações da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) contra a venda ilegal de bilhetes para os concerto dos Coldplay - em maio do próximo ano, no Estádio de Coimbra - levou à retirada de vários anúncios em plataformas como o OLX. Isso não quer dizer que a especulação tenha desaparecido. Terá migrado para as redes sociais e para grupos fechados. A ASAE diz-se vigilante e preparada para enfrentar os desafios do novo paradigma digital.
O fenómeno da especulação tem-se mantido "mais ou menos constante", avança o inspetor-geral da ASAE ao JN, adiantando que um maior mediatismo, talvez pela relevância da banda Coldplay e do evento, possa ter dado a ideia errada de um aumento. Aliás, não há sequer indícios de especuladores profissionais, em grande parte, por falta de um caudal de eventos que permita essa exclusividade.
"Há seis ou sete jogos de futebol por temporada e três ou quatro eventos musicais com maior expressão", contabiliza Pedro Portugal Gaspar.
Lucro determina multa
A prática habitual diz-nos que, quanto maior a procura a proximidade do evento, maiores são as taxas de lucro obtidas. Mas o valor do lucro também determina as sanções. Além de ficarem sem os bilhetes, os tribunais condenam os especuladores a multas com valores próximos do que esperavam lucrar para conseguirem uma suspensão de pena. No início do mês, a ASAE deteve duas pessoas por especulação, acusadas de venderem por um valor entre 250 e 350 euros bilhetes para os Coldplay com custo unitário entre 90 e 150 euros.
Todavia, antes da condenação é necessário um trabalho de investigação. Tarefa que se dificultou com o mundo digital. As vendas já não são feitas na rua pouco antes dos eventos. Fazem-se em qualquer altura, a partir de qualquer lugar. E por vezes através de sites e IP domiciliados fora do espaço europeu, o que complica a tarefa das autoridades.
"Houve uma rutura total de paradigma em termos de consumo e também de fiscalização. É um desafio a que temos conseguido dar resposta, mas que exige aprendizagem e aperfeiçoamento constantes", afirma o inspetor-geral.
A ASAE atua de dois modos: reativo, em função de denúncias, e proativo com ações de varrimento de sites. Nalguns casos são montadas operações para apanhar os criminosos em flagrante delito.
Portugal Gaspar deixa o alerta aos consumidores de que é provável que ocorram burlas à boleia da especulação. Quem recorrer à compra de bilhetes fora dos locais autorizados "tem de ter atenção porque podem estar perante uma situação não só da venda de um bilhete acima do valor, mas também da venda de um não-bilhete". Ficam sem dinheiro e sem entrada.