A pouco mais de um mês do centenário do nascimento de Eugénio de Andrade, o espólio do poeta natural da Póvoa de Atalaia foi transferido para a Casa dos Livros, partilhando agora um espaço comum na Rua do Campo Alegre, fronteiriço ao Jardim Botânico do Porto, com o acervo de autores como Vasco Graça Moura ou Albano Martins.
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São 17 mil livros, a que se somam quase 10 mil documentos variados, como cartas, desenhos, postais, notas ou fotografias, que serão disponibilizados à comunidade, assim que estiver concluído o moroso processo de catalogação e tratamento de todos estes documentos.
Este valioso acervo encontra-se desde o início da semana na Casa Burmester, palacete secular agora rebatizado de Casa dos Livros, depois de "ter andado em bolandas", como sintetizou o reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira.
Inicialmente instalados na residência do poeta, na Rua do Passeio Alegre, acabaram depois, com a morte do poeta, por ser transferidos para a Biblioteca Pública Municipal do Porto, chegando agora "a um abrigo e porto seguro" que se espera definitivo.
"Nada melhor do que uma Faculdade de Letras para que este acervo seja estudado. É um conjunto de documentos muito importante, mas não está ainda trabalhado", afirmou Rui Moreira nesta quarta-feira, no final da cerimónia de assinatura do contrato de depósito entre a Câmara do Porto e a Universidade local, através do Centro de Estudos da Cultura em Portugal.
Para o autarca portuense, "este extraordinário espólio bibliográfico, epistolar, artístico e memoralístico" encontra na Casa dos Livros "o local adequado para preservar, celebrar e promover a obra de Eugénio de Andrade".
Nos próximos três anos, a autarquia irá atribuir uma verba total de 60 mil euros para que o acervo seja tratado por investigadores."A partir deste material podem surgir teses de mestrado ou doutoramento e publicações várias", enfatizou Fernanda Ribeiro, diretora da Faculdade de Letras.
Disponível para "estudo", o acervo servirá também para fruição cultural, explica a responsável, que garante estarem a ser planeadas diversas iniciativas, como colóquios ou exposições, que servirão para estreitar a ligação com o público em geral e assinalar o centenário do nascimento do poeta ao longo do próximo ano.
Espectador atento da cerimónia, o ensaísta e professor catedrático jubilado Arnaldo Saraiva, antigo presidente da Fundação Eugénio de Andrade, era, no final de sessão, "um homem alegre por ver que este espólio vai para um bom espaço, onde poderá ser tratado devidamente".
Apesar de serem vários os espaços no Porto com uma forte ligação ao autor de "As mãos e os frutos", como a Rua Duque de Palmela ou a Rua do Passeio Alegre, o Centro de Estudos da Cultura em Portugal, onde a partir de agora ficarà instalado o seu património literário e bibliográfico, cumpre uma misssão para a qual a Fundação Eugénio de Andrade "não tinha condições nem instrumentos legais para cumprir". "A minha grande preocupação sempre foi preservar o espólio, evitando que se dispersasse ou degradasse", frisou Arnaldo Saraiva, que, embora considere que a Biblioteca do Porto tinha "boas condições" de armazanemento, "não era o local específico para o estudo da sua obra".