Coleção editorial da Direção Regional de Cultura do Norte celebra dois anos. Objetivo é preservar o conhecimento e democratizar o acesso à cultura.
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A Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) recebeu um prémio da Associação Portuguesa de Museologia, na categoria de "Investigação". Em causa está o projeto denominado "Património a Norte", proposta editorial nascida em 2019, com o propósito de dar resposta às funções social, educativa e científica da DRCN enquanto responsável pela preservação, valorização e acesso à cultura portuguesa. Com ela, a DRCN está a criar uma "Torre do Tombo" da cultura da região.
Atualmente, a coleção do projeto já conta com 10 edições. Se no início a ideia era publicar um livro por semestre, agora a periodicidade é já trimestral.
Luís Sebastían, arqueólogo e coordenador editorial do projeto "Património a Norte", explica que "originalmente, tratava-se de um projeto editorial convencional: tínhamos autores, conteúdos, paginação, impressão e público". Agora, continua, "temos o livro, mas não funciona como um fim, mas como um meio".
O responsável acrescenta que os próximos números da coleção serão dedicados ao Convento de Santa Clara, no Porto, recentemente intervencionado e sobre o qual foi realizada uma vasta investigação de raiz.
O exemplo Santa Clara
A DRCN já têm "mais de 6000 fotografias e mais de 100 horas de filmagens" sobre a referida intervenção no Convento. "São documentos preciosos que, daqui a vários anos, serão essenciais para a memória dos monumentos. Por exemplo, caso haja um terremoto ou uma catástrofe como a que aconteceu na Notre Dame, em Paris, são necessários registos detalhados para a reconstituição", explica o responsável.
No caso do Convento de Santa Clara, houve ainda tempo para registar "pequenos testemunhos dos técnicos e dos conservadores restauradores que fazem magia", acrescenta Sebastían.
A Coleção "Património a Norte" integra também uma edição sobre o património musical e sobre o restauro do órgão do mesmo convento. Já foram recolhidas mais de 100 partituras do século XVIII e XIX, escritas para este local, que foram encontradas na Biblioteca Nacional (BNP).
De resto, a parceria com a BNP foi essencial. Os técnicos foram incansáveis e, mesmo durante a pandemia, trabalharam para dar apoio ao "Património a Norte". As partituras foram transpostas por um musicólogo alemão para uma partitura musical contemporânea, para que se possa saber como soava a música.
Do Brasil à Alemanha
Laura Castro, diretora regional da Cultura do Norte, explica ao JN que o âmbito da "DRCN é abrangente e diversificada". Os temas de que se ocupa "surgem em conversa e são diversos". Neste momento, está a ser preparada uma edição sobre a EDP e as medidas hidroelétricas, o impacto ambiental e as albufeiras. O património submerso será também um tema a tratar.
"É muito fácil fazer este projeto", elogia Luís Sebastían. "Organismos do Estado, científicos ou de divulgação têm-se mostrado disponíveis para trabalhar connosco. Também porque trabalhamos temas que ninguém trabalhará."
O projeto, pensado para seis anos, depende inteiramente de fundos da DRCN. Quanto aos autores, nunca lhes foi pedida uma publicação académica. "Há textos de técnicos, universitários e investigadores. Normalmente escolhemos alguém não muito óbvio para escrever o texto de abertura", esclarece Luís Sebastian.
Uma surpresa foi a resposta dos leitores. "Tem sido ótima, temos muitos leitores no Brasil, nas Casas-Museu e nos centros interpretativos da Venezuela. Estamos também no Getty Museum (Los Angeles) no MET (Nova Iorque), na Casa del Libri (Itália) e no catálogo da Biblioteca Nacional da Alemanha".
Edições
As predileções dos responsáveis
Para Luís Sebastían a sua edição favorita é a oitava, dedicada ao cinema. "Foi uma aventura de dois anos, planeada a longo prazo, a edição e a ilustração", conta. Esta edição apresenta uma visão de conjunto do panorama atual do universo da Sétima Arte em Portugal. Laura Castro confessa uma predileção pela edição número quatro, sobre "Pintura mural: intervenções de conservação e restauro".