O caminho do português para a inclusividade é longo. Estado recomenda uso de termos neutrais.
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Na semana passada, celebrou-se o Dia do Trabalhador. E porque não o Dia da Trabalhadora? E a palavra "trabalhadores" é a ideal para englobar toda a gente? Responder a este tipo de questões é uma das faces visíveis do trabalho da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), que entre outras matérias se ocupa do uso da linguagem para minorar as desigualdades de género, como explica Sandra Ribeiro, presidente do organismo.
O fenómeno não é só português. Há semanas, um filho do presidente brasileiro, Eduardo Bolsonaro, referiu-se às colegas deputadas como "pessoas portadoras de vagina". Na mesma semana em Espanha, em dois debates, deputados do Vox referiram-se a quem liderava outras tantas comissões parlamentares como "senhora presidente". Como resposta, uma delas, Pilar Cancela, da Comissão de Igualdade, dirigiu-se a eles como "senhora deputado", aí começando um desaguisado sobre "incoerência gramatical". Sendo que a Real Academia Española admite o uso da palavra "presidenta".
em tons neutros
Em Portugal, a Administração Pública instituiu que todos os termos usados sejam "neutrais para que possam ser o mais abrangentes possível, mas o exercício nem sempre é fácil", admite a presidente da CIG.
Em 2009, foi lançado e adotado pela Administração Pública um manual em que se prevê que "a avaliação de impacto de género deve igualmente analisar a utilização de linguagem não discriminatória na redação de normas através da neutralização ou minimização da especificação do género, do emprego de formas inclusivas ou neutras, designadamente por via do recurso a genéricos verdadeiros ou à utilização de pronomes invariáveis".
Palavras como ""clientes", "eleitorado", "população", que utilizem um género neutro e não centradas no sujeito, para que englobem todas as pessoas, são as que estão em prática na Administração Pública", explica Sandra Ribeiro.
Apesar de a presidente considerar que "os instrumentos e resoluções sobre a linguagem inclusiva são suficientes", há um grande percurso pela frente que passa pelo ensino. "Alguém educado a escrever em linguagem neutra e inclusiva é um caminho que estamos a trilhar, mas é difícil, até porque as línguas latinas não são os melhores exemplos das linguagem neutral."
Acresce a este problema, a invisibilidade porque "não se pode retirar a linguagem do contexto associado". E dá um exemplo: "Se estamos a falar de diferenças salariais devemos referir as mulheres e os homens. Ou se estamos a falar de comunidades transgénero e cisgénero também não as devemos invisibilizar".