Começa este sábado em Matosinhos e prossegue até ao dia 13: o Literatura em Viagem vai andar “pelos desertos intermináveis da imaginação”. Ricardo Araújo Pereira, Bruno Nogueira, Adolfo Luxúria Canibal, mas também Mário Cláudio e Francisco José Viegas, estão em destaque.
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Mais prolongada no tempo, a edição deste ano, a 19.ª, do festival Literatura em Viagem (LeV) alarga também o seu espetro temático habitual. A partir de sábado e até ao próximo dia 13, Matosinhos (sobretudo a Biblioteca Florbela Espanca e a Galeria Municipal, mas também o Mosteiro de Leça do Balio ou o Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo) vai acolher perto de meia centena de convidados, desafiados a falarem sobre o ato criativo nas suas múltiplas dimensões.
Liberto do conceito inicial que o associava principalmente à literatura de viagens, o LeV tem vindo a assumir-se cada vez mais (de que é exemplo o programa deste ano) como um espaço de encontro e debate para lá da esfera estritamente literária, deixando-se contaminar pelo humor e pela música.
Sempre fiel às palavras de Eduardo Lourenço, segundo as quais “mais importante do que o destino é a viagem”, mas também sem descurar a ideia da jornada “pelos desertos intermináveis da imaginação”, o festival matosinhense apresenta este ano conversas e mesas redondas que vão debater temas como a composição musical, o guionismo e o humor, juntando nomes bem conhecidos dessas áreas, como Adolfo Luxúria Canibal, Carlos Tê, Miguel Pedro, Filipe Melo ou Bruno Nogueira.
O cocriador do projeto “Deixem o pimba em paz” não será o único humorista presente por estes dias em Matosinhos. No penúltimo dia do LeV, Ricardo Araújo Pereira vai conversar com Jenny Kleeman acerca do seu livro “Robôs sexuais e carne vegana”, uma investigação acerca “do futuro da alimentação, do sexo e da morte”.
Debates e não só
A atenção a outras temáticas que não as exclusivamente literárias está longe de significar que estas foram colocadas à margem. Além da presença de escritores como Ana Margarida de Carvalho, Teolinda Gersão, Mário Cláudio, Francisco José Viegas ou Hugo Gonçalves, o Literatura em Viagem vai debruçar-se sobre a matéria da ficção, a relação entre o movimento, a descoberta e a escrita ou o papel da cultura na construção de identidades nacionais globais.
Ainda no âmbito das conversas, Valter Hugo Mãe protagoniza no derradeiro dia uma entrevista de vida, conduzida por Maria João Costa.
Menos numerosa do que o habitual, a participação de autores estrangeiros inclui nomes de relevo. Como a escritora finlandesa Sofi Oksanen, autora dos romances “Purga” e “Norma” ou do recente ensaio “A guerra de Putin contra as mulheres”, ou Anna Pacheco.
A jornalista espanhola acaba de publicar em Portugal “Estive aqui e lembrei-me de nós”, um livro que reflete sobre o impacto do turismo nas cidades, ao mesmo tempo que “explora as contradições entre o luxo que os hotéis de cinco estrelas oferecem e a realidade social, económica e laboral que os mantém a funcionar”.
Num programa que também abarca várias iniciativas para os mais jovens, das oficinas e das horas de conto aos encontros com autores, destaque também para a exposição comemorativa do bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, as múltiplas apresentações de livros, o regresso aos palcos da banda Mundo Cão ou o arranque de um clube literário que se propõe enaltecer o património nacional.