Fetiches, confiança, golpes de quadril, o amor e as suas fãs no Indie Music Fest
Indie Music Fest recebeu ao terceiro dia as groupies de Ganso, em Baltar, Paredes.
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Depois da procissão de exaltação a Gaia do mordomo David Bruno, na madrugada anterior, e debaixo de um céu carregado, que prometia muita chuva, mas só despejou aquela tensão húmida de festival, abriu o último dia do Indie Music Fest, em Baltar, Paredes. O Palco Antena 3 viu nascer uma pequena revolução de quadris e passos improvisados: Manga Limão, com o seu groove cítrico, transformou a relva molhada em pista de dança. Havia quem dançasse de olhos fechados, braços no ar, como um ritual coreográfico da chuva.
Acima, o Palco Super Bock abriu com J Mistery. Primeira banda a pisar este chão da Floresta Mágica, que chegou acompanhado de um pequeno exército de groupies com lenços bordados com o nome da banda - em devoção quase religiosa. A potente voz de J. Mistery hipnotizou o público com "Safe place", que transformou a plateia num coro uníssono, como se todos se reconhecessem nesse refúgio. Em "Protection", a energia adensou-se - uma ode ao amor como território sagrado, confiança que se dá como quem se despe. Mas logo, com "Breakdown", mostrou o lado cru da rendição: aceitar o colapso, com as teclas a sublinhar a fissura emocional. No auge da intensidade, "Everlasting love" foi mais que uma canção: foi uma flecha lançada diretamente para Cecília, na primeira fila, que recebia cada verso como uma confissão.
A frescura de Ganso
A abrir a noite, Ganso subiu ao palco e mostrou que ainda havia muito para respirar. "Vice versa" soava como o hino de uma semana perfeita, todos a cantar, cúmplices do mesmo refrão. De Lisboa para o mundo, os Ganso continuam a ser uma das vozes mais frescas da cena independente, mestres em reinventar o seu próprio som sem perder a alma. "Fetiche fonético" foi dedicado às gentes do Norte, arrancando sorrisos cúmplices. E entre ironia e verdade, veio a lição: "Vou-te ensinar a não confiar". O público recebeu, com aplausos e passos desajeitados, a mensagem contraditória e sincera, como o amor - mesmo o desconfiado. O mesmo amor que as fãs têm por Gonçalo, por quem gritavam sem parar. Os Hause Plants abriram uma bonita discoteca ao ar livre, mesmo quando o tema diz "I feel so lost when I can´t be with you". A rematar trouxeram o super êxito de Springsteen "Dancing in the Dark", fazendo entoar o verso "Can´t start a fire without a spark". Faísca que eles têm de sobra.