Indie Music Fest encerrou na madrugada deste domingo, em Baltar, Paredes debaixo de uma intensa chuva. Mas ainda antes da chuva quase roubar os festivaleiros persistentes tocou Papillon. No concerto revelou que terá novo trabalho em breve.
Corpo do artigo
Papillon sobe ao palco como quem carrega a sua história nas costas, mas a transforma em música e movimento. O rapper, de presença magnética, tem um corpo que fala antes mesmo das rimas e um sorriso que alterna entre ironia e cumplicidade. O olhar é firme, quase desarmante, e há nele uma energia elétrica que percorre cada gesto, cada passo, cada pausa.
"Não há nada mais sexy do que dizer a verdade". O público vibra, não apenas pela frase, mas porque reconhece que ela traduz o ADN do artista. Papillon construiu o seu caminho num registo de autenticidade inabalável, e cada verso confirma isso. Logo a seguir, atira com humor provocatório: "Nako loba não é na Colômbia". A plateia ri em uníssono, cúmplice da ironia, e nesse instante a barreira entre artista e plateia desaparece.
A viagem continua com "Oxalá". O ritmo quente espalha-se como fogo, e de repente toda a multidão dança, unida pelo mesmo compasso. É um daqueles momentos em que a música já não é só som - é energia física, coletiva, pulsante. Pouco depois, Papillon solta: "Não vem que não tem, agora estou bem". A declaração ecoa como manifesto pessoal e artístico, a confirmação de uma fase nova, marcada por confiança e superação.
Quando chega "Impasse", a intensidade atinge outro patamar. O guitarrista, possuído pelo groove, arrisca saltos acrobáticos em pleno palco, arrancando aplausos e assobios de espanto. A banda parece em estado febril, e Papillon, no centro do furacão, deixa-se levar, sem perder o domínio da cena. Entre um tema e outro, confessa: "A música ajuda-me a resolver os meus conflitos internos". O público escuta em silêncio breve, respeitoso, antes de se entregar outra vez à explosão sonora.
A noite ganha um peso emocional inesperado quando surge "Imagina". Papillon conta que demorou dois anos até conseguir cantar esta faixa, inspirada nos pais ausentes. A voz denuncia emoção, a vulnerabilidade toma o espaço, e a plateia acompanha com empatia, consciente de estar perante um momento raro de exposição genuína. Em seguida, o rapper levanta o ânimo com "Já Entendi", novidade lançada este ano, recebida como hino instantâneo. As vozes do público sobrepõem-se à dele, como se a canção já fosse memória coletiva.
Entre os temas, Papillon deixa escapar um segredo: "Está muito, muito para breve o meu melhor trabalho". A revelação arranca gritos de entusiasmo, porque quem o segue sabe que cada novo passo é uma reinvenção. A fidelidade dos fãs confirma-se no coro permanente: ninguém falha uma palavra, todos cantam de fio a pavio, como se as músicas lhes pertencessem também.
O clímax chega com "Impec". Papillon fecha o concerto com a mesma intensidade com que começou, mas agora a plateia inteira está transformada. O espetáculo não é apenas entretenimento: é catarse, é partilha, é prova de que a arte pode ser espaço de cura e celebração.
Papillon sai de cena deixando uma sensação de plenitude: a de quem viveu um concerto que é também retrato vivo de um artista em constante evolução já desde os GrogNation. O corpo descreve-o, a música revela-o, e a verdade - sempre a verdade - é o que o torna irresistível.