“Revolução (sem) sangue”, do realizador português Rui Pedro Sousa, está a ser rodado em Lisboa até final do mês.
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A história das pessoas que morreram na revolução de 25 de Abril de 1974 está a ser transposta para cinema, no novo filme “Revolução (sem) sangue”, de Rui Pedro Sousa. O cineasta tem 37 anos e ainda não tinha nascido na altura dos factos. A rodagem termina este mês e a estreia já está marcada: dia 25 de abril de 2024.
“Revolução (sem) sangue” é protagonizado por Rafael Paes, Lucas Dutra, Diogo Fernandes e Manuel Nabais. A longa-metragem de ficção quer “mostrar aos espectadores como foi a revolução na perspetiva do povo”, contando a história verídica de cinco pessoas que morreram naquela noite de 1974, explicou o realizador Rui Pedro Sousa.
“O nosso filme mostra como a nossa revolução foi importantíssima e determinante, mas também conta aquela parte em que – caramba! –, mesmo assim houve cinco jovens que tinham muitos sonhos programados e viram esses sonhos terminados”, disse.
As cinco pessoas retratadas são Fernando Giesteira, João Arruda, Fernando Reis e José Barneto, que tinham entre 18 e 38 anos e que morreram alvejados pela PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, sede daquela polícia política do Estado Novo. A estes junta-se ainda António Lage, funcionário da PIDE/DGS, que foi baleado por um militar.
O filme é uma ficção ancorada na recolha de informações dadas por familiares, por intervenientes no 25 de Abril de 1974, pelos historiadores António Araújo e Irene Pimentel e pelos jornalistas Fábio Monteiro e Jacinto Godinho, refere a produtora Filmesdamente.
Famílias agradecidas
No retrato das cinco vítimas, a produção contou com o apoio e o consentimento da maioria das famílias, exceto dos herdeiros de José Barneto, por falta de consenso entre familiares, o que limitou a abordagem à vida deste homem, explicou o realizador.
Ainda assim, Rui Pedro Sousa reconheceu que “estas famílias estão todas muito agradecidas por se fazer o projeto”, porque resgata a memória daqueles que morreram.
“Mas o que me deixou mais intrigado é que nunca se fala dessas cinco pessoas. Há uma placa na Rua António Maria Cardoso, nem sequer foi posta pelo Governo, foi posta por pessoas desconhecidas, mas mesmo assim dois dos nomes dos que morreram estão errados”, recorda o realizador.
câmara junto do povo
Sobre o ângulo de abordagem do filme, o realizador deu como exemplo as filmagens feitas no Largo do Carmo, em que recriou um dos momentos significativos da revolução, com a rendição do então primeiro-ministro Marcelo Caetano.
“Quando filmámos no Carmo, a câmara nunca chega a estar junto do [capitão] Salgueiro Maia e dos militares; fica sempre junto das personagens do povo, que estavam lá longe a ver. É mostrar a revolução na perspetiva destas pessoas, que não se conheciam de todo e acabam por estar no sítio errado, à hora errada”, disse.
O arco temporal da narrativa é entre 23 e 30 de abril de 1974, mas o ponto central é o tiroteio no dia da revolução. O filme teve apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual.