Filme sobre Hind Rajab, que morreu aos cinco anos em Gaza, comove Festival de Veneza
A guerra em Gaza é a protagonista desta quarta-feira do 82.º Festival de Veneza, onde a franco-tunisiana Kaouther Ben Hania apresenta "The Voice of Hind Rajab", filme baseado na história real de uma menina palestiniana assassinada pelas forças israelitas enquanto tentava fugir da Cidade de Gaza.
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"The Voice of Hind Rajab" recria as longas horas vividas em 29 de janeiro de 2024, quando os trabalhadores de um centro de emergência em Ramallah, na Cisjordânia, tentaram salvar a menina de cinco anos, refugiada num carro com seis familiares.
Com o consentimento da mãe, no filme foram utilizadas gravações reais da chamada em que Hind Rajab pedia socorro - registos que causaram grande comoção em todo o mundo. "Fique comigo, não me abandone", ouve-se a menina a dizer na chamada, entrecortada pelo som de tiros e bombas.
"Estamos a ver que, em todo o mundo, a Imprensa apresenta os mortos em Gaza como danos colaterais. Parece-me muito desumanizante, por isso o cinema, a arte e todas as formas de expressão são tão importantes para dar uma voz e um rosto a essas pessoas", afirmou Ben Hania em conferência de imprensa.
Realizadora Kaouther Ben Hania com a fotografia de Hind Rajab
Foto: Tiziana FABI / AFP
O filme, apresentado na seleção oficial, faz parte da lista de 21 produções que competem este ano pelo Leão de Ouro, que será entregue em 6 de setembro por um júri presidido pelo norte-americano Alexander Payne.
"Um povo devastado"
Desde o início do festival, em 27 de agosto, o glamour do evento foi eclipsado em diversos momentos pela devastadora situação da Faixa de Gaza, palco de uma guerra desencadeada pelo ataque do movimento islamista palestiniano Hamas em Israel em 7 de outubro de 2023.
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Um coletivo fundado por dez cineastas italianos independentes, chamado Venice4Palestine (V4P), lançou um apelo no início do festival condenando a guerra no território palestiniano, com uma carta aberta que reuniu - segundo o grupo - duas mil assinaturas.
Também foram várias as personalidades que expressaram a sua condenação à ofensiva israelita.
A diretora marroquina Maryam Touzani e o seu marido, o cineasta Nabil Ayouche, seguraram um cartaz preto onde se lia "Stop the genocide in Gaza" ("Parem o genocídio em Gaza") no tapete vermelho, e a cineasta argentina Lucrecia Martel denunciou que "diariamente vemos imagens e sons de um país sendo devastado, um povo sendo devastado, que é a Palestina".
No sábado, milhares de pessoas manifestaram-se no Lido, onde acontece o festival, contra as ações israelitas na Faixa de Gaza.
Por sua vez, o diretor artístico do Festival, Alberto Barbera, afirmou que o festival é "um lugar de abertura e debate".
"Nunca hesitamos em declarar claramente o nosso enorme sofrimento diante do que está acontecendo na Palestina (...), com a morte de civis e, sobretudo, de crianças", insistiu.