Está de volta às salas de cinema um dos mais belos filmes de sempre, “Do fundo do coração”, de 1982.
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Houve um tempo em que a única forma de ver cinema era na sala escura. Com a exceção dos poucos filmes exibidos pela TV pública, única então. Não havia gravadores ou boxes para ver mais tarde, e as cassetes Beta ou VHS, DVD, Blu-ray, e canais de streaming eram pouco mais do que ficção científica.
Então, havia cinemas de estreia e cinemas de reprise, em especial nos bairros periféricos, especializados nos filmes antigos. E mesmo as grandes salas tinham esse hábito das reprises, nos meses de verão.
Era assim ainda em 1982, quando Francis Ford Coppola assinou um dos filmes mais belos que se possa imaginar. E que esta quinta-feira volta às salas: “Do fundo do coração – Reprise”.
Coppola adora retrabalhar os seus filmes antigos. Como produtor, tem toda a legitimidade: já nos deu a versão redux de “Apocalypse now” e são múltiplas as variantes da trilogia “O Padrinho”.
Estreado em 1982, “Do fundo do coração” foi um dos maiores fracassos comerciais de sempre, levando a Zoetrope a uma quase falência, obrigando Coppola a desfazer-se de outros negócios, levando-o a aceitar realizações de “encomenda” para pagar as dívidas com o seu salário de realizador.
Não era Coppola que estava errado, com esse cinema digital “avant la lettre”, com essa Las Vegas de sonho e fantasia imaginada em estúdio ou com essa forma musical de abordar o fim de uma relação. Era o público, o “mercado”, a indústria que não estavam ainda preparados para tamanha revolução.
A versão “Reprise” retira alguns minutos ao original e aligeira os momentos iniciais de tensão no casal. Mas permanece o universo único, criado por Coppola com colaboradores como Tom Waits na banda sonora, Vittorio Storaro na imagem, Dean Tavoularis nos cenários.
Do lado de cá do ecrã, as lágrimas da emoção pelas vivências das personagens juntam-se às do êxtase visual e sonoro. Vindas do fundo do coração.