É o início do desfile na passadeira de prémios: os Globos de Ouro, 67.ª edição, são entregues esta madrugada. Ganham peso na indústria e abrem caminho para os Oscars (7 de Março). Siga a entrega dos Globos no JN online.<br />
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Após o seu triunfo mundial, “Avatar”, o fresco futurista de James Cameron que traz até nós o futuro, espera receber esta noite as primeiras recompensas em prémios. Está nomeado para 4 Globos de Ouro e aspira à condição de melhor filme dramático; o mesmo para o seu 'skipper' , Cameron (nomeado melhor realizador), criador total dessa parábola imperialista que é “Avatar”, onde um país de mercenários invade e ocupa outro país, no caso noutro planeta, para lhe roubar minério.
O palco é em Beverly Hills, Califórnia, 67.ª cerimónia dos Globos de Ouro, que podemos ver por cá a partir da 1h30 (são menos oito horas em LA, no quadro GMT). A emissão está disponível para qualquer ponto do globo, via net; em Portugal os canais cabo AXN e SET transmitem em directo na TV.
“Avatar” parte como forte favorito (é uma produção em escala macro: 3D evolucionário e uma nova forma de consumir imagens, que obrigará salas de cinema a aumentar o tamanho dos ecrãs; não é, ainda, o futuro, mas já é um presságio), mas tem ao lado uma sombra gigante: “Nas nuvens” (“Up in the air”), espantoso drama que relata a angústia colectiva do nosso tempo quando nos conta a vida de um “despedidor profissional de empregos”, basicamente um capanga de marketing para os patrões cobardes de hoje que não tenham coragem de despedir os seus próprios empregados. Ele é George Clooney, actor em registo vintage, um homem que vive 90% da sua vida no ar, em trânsito, a despedir pelo país, e que basicamente só ambiciona para si a sua própria solidão. O comovente filme de Jason Reitman (é dos bons, é o de “Juno”) é o mais nomeado para hoje, tudo categorias maiores: melhor drama, realizador, argumento, actor (Clooney) e actriz secundária (duas candidatas: Anna Kendrick e Vera Farmiga).
Os restantes candidatos a melhor drama do ano ombreiam: “Inglourious Basterds”, trash-cinéfilo de Quentin Tarantino (4 globos); “The Hurt locker” (3 globos), em que Kathryn Bigelow nos põe a ver a invasão do Iraque como coisa alienígena, com tanto de bom Série B como de documentário realista; e “Precious” (3 globos), de Lee Daniels, história de estupro e superação em miséria no Harlem, ainda inédita para nós.
O troféu de melhor realizador coloca na mesma arena um curioso elenco: Tarantino contra Clint Eastwood (“Invictus”, Mandela e a ascensão na África do Sul ), Cameron contra a sua ex-mulher ( Kathryn Bigelow) e Jason Reitman sozinho contra eles todos.
Nos actores, Clooney é o claro favorito nos Globos e a cerimónia deverá pavimentar o seu caminho até aos Oscars. Os outros quatro candidatos: Morgan Freeman (é o Mandela de Clint Eastwood em “Invictus”), Tobey Maguire (“Brothers”), Colin Firth (“A single man”) e Jeff Bridges (“Crazy Heart”).
Na categoria de melhor comédia/musical a matéria cinematográfica é, classicamente, mais fraca. Colheita deste ano: “Nine”, musical de figurinos Victoria's Secret realizado pelo encenador Rob Marshall (5 nomeações; cintila de belas mulheres), “500 days with Summer”, falso 'light' sobre o amor, de Marc Webb, seguramente o melhor do quinteto; “A ressaca” (The hangover”), de Todd Phillips, um vero 'light' de comédia sem consequência, mais leve do que o ar; “It's complicated”, de Nacy Meyers, um 'fell-good-movie' assim-assim para espectadores maduros que se queiram confortar com o casamento (mas tem a maravilhosa Meryl Streep); e “Julie & Julia”, de Nora Ephron, comédia banal de duas partes com a história de duas mulheres que se superam (e assim ascendem) sobre a cozinha, que Meryl Streep carrega inteira como se levasse na mão apenas uma pluma.
Meryl Strep é tão boa (ouça-se como ela diz 'bon apetit' em “Julie & Julia” e conclua-se) que é obrigada a concorrer consigo mesma: está nomeada pelos dois filmes. Fazem-lhe companhia (o prémio está garantido e, por isso, será só isso mesmo, companhia) Julia Roberts (“Duplicity”), Marion Cotillard (“Nine”) e Sandra Bullock (“The proposal”).
A corrida de melhor filme estrangeiro traz uma boa apanha, com maioria dos filmes já nas nossas salas: “Abraços desfeitos”, de Almodovar, com Penelope Cruz (Espanha); “O profeta”, de Jacques Audiard (França); “Baaria”, de Giuseppe Tornatore (Itália); “La nana”, de Sebastian Silva (Chile); e “O laço branco” (“The white ribbon”), de Michael Haneke (Alemanha).
Nas animações entramos de novo em território familiar, mas, este ano, com mais formatos. Há dois filmes em 3D (“Up”, de Pete Docter; e “Chuva de almôndegas”/“Cloudy with a chance of meatballs”, de Phil Lord), dois em stop-motion (“The fantastic Mr. Fox”, de Wes Anderson; e “Coraline”, de Henry Selick) e um filme em animação tradicional (“A princesa e o sapo”, de Ron Clements).