Festival despediu-se em apoteose com o concerto da banda virtual de Damon Albarn, que provocou a maior enchente dos três dias e trouxe ao palco Beck, Fatoumata Diawara, Little Simz e outros convidados ilustres. Interpol jogaram pelo seguro e investiram nos temas que os celebrizaram.
Corpo do artigo
Havia expectativa sobre o formato do espetáculo da banda virtual criada em 1998 por Damon Albarn. Seriam os bonecos a atuar? Estariam os músicos de carne e osso escondidos? Seria ao contrário? Outra coisa qualquer? A esse respeito não se poderá falar de espanto. O também vocalista dos Blur e a sua trupe ocuparam o palco, eram eles os visíveis, enquanto as figuras animadas iam surgindo em diferentes situações - em concerto ou a disparar metralhadoras - no ecrã ao fundo. Muita qualidade nos desenhos, muito engenho nas sincronias, mas acabou por ser a música a verdadeira estrela do concerto
É uma pop-fenómeno a dos Gorillaz. Cabe de tudo naquelas faixas que parecem subir ao céu e estourar como fogo de artifício. Há dub, há funk, há soul, há 30 subgéneros de eletrónica e rock e trip hop e experimentalismo. Há convidados em barda - muitos deles participantes no mais recente projeto da banda, "Song machine", que foi sendo apresentado por capítulos entre 2019 e 2020. O mais notável foi Beck, que atuara de véspera no mesmo palco e foi lá dar a perninha e a caixa vocal em "The valley of the pagans". Depois foi um saltitar pelas canções estralejantes de "Gorillaz", "Demon days" ou "Plastic beach" - culminando na mais célebre de todas, "Clint Eastwood" (com direito a falha técnica para abrilhantar).
14935187
Horas antes, aturam os Interpol, que não arriscaram muito com os álbuns recentes e preferiram revisitar os seus "heydays" em que produziram os temas de "Turn on the bright lights", "Antics" e "Our love to admire". Continuam algo dececionantes ao vivo, fechados nas suas carapaças e pouco comunicativos. Paul Banks, de óculos escuros, assemelhava-se a outra simpatia do rock: o baixista dos Bauhaus, David J. Mas a música ergue-se apesar de tudo e dispensa, inclusive, qualquer tipo de multimédia a raiar do palco - facto que os distinguiu de praticamente todos que subiram ao estrado principal.
Pouca sorte tiveram os Squid, banda britânica de pós-rock que deixou as melhores impressões com as suas faixas saturadas de elementos e possibilidades, mas 15 minutos depois de arrancarem já se escutava o tema de abertura dos Gorillaz, "M1 A1". Terão certamente outras oportunidades.