Situação agrava-se com rendas a pagar aos shoppings. Risco de insolvência é real, alertam representantes.
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Logo que os cinemas foram obrigados a fechar, as grandes cadeias de exibição em Portugal tentaram abrir as negociações: as rendas a pagar nos centros comerciais, que na vasta maioria dos complexos rondam os 100 mil euros por mês, começaram a tornar-se incomportáveis.
As faturas dos arrendamentos continuaram, no entanto, a ser emitidas, alertam a Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC) e a Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP), dando mais uma machadada num setor que prevê receitas de 35 a 40 milhões de euros até ao final do ano - uma quebra entre 55% e 60% em relação aos 83 milhões de 2019.
É uma perda estimada em perto de 45 milhões e que cria um cenário "muito complicado"numa atividade com custos mensais médios de três milhões de euros. O risco de insolvências é real.
Para "um negócio com a estrutura que este tem", sublinha ao JN Paulo Aguiar, da APEC, a queda de faturação ´sinaliza "o impacto que eventualmente pode trazer em termos da solvabilidade das empresas". Um aviso secundado por Paulo Santos, da FEVIP.
Mesmo havendo empresas mais robustas do que outras, "há risco de insolvências neste setor. Estamos a falar de empresas de exibição de cinema marcadamente comercial, a funcionar em espaços comerciais, por força desta situação [das rendas] e da abertura prematura das salas".
A agravar as dificuldades trazidas pela pandemia (as produções norte-americanas, que compõem o grosso dos filmes exibidos nestas salas, adiaram estreias - ver na página ao lado) acontece também que as negociações não têm corrido bem para os exibidores de cinemas.
Os shoppings, dizem os representantes, não têm mostrado abertura para ceder e cada empresa tenta negociar com cada um dos espaços comerciais em que opera, o que aumenta a complexidade negocial. Salientando que não conhecerem os detalhes das conversações individuais, os dois responsáveis asseguram que, "salvo raríssimas exceções", "não tem havido recetividade, de um modo geral, para renegociar o pagamento das rendas".
Até agora, apenas as salas independentes, nomeadamente o Trindade, no Porto, ou o Nimas, em Lisboa, abriram portas. As grandes cadeias representadas pela APEC, como a NOS Cinemas ou a Cineplace, cujas operações são centradas essencialmente nos shoppings, permaneceram fechadas, mesmo depois dos grandes espaços terem reaberto a 1 de junho.
Penalizações de fecho
A reabertura trouxe mais um problema: os contratos com os centros comerciais preveem penalizações diárias, calculadas em função da renda mensal, para quem não abrir os seus espaços. As multas começam a acumular-se e essa era outra das razões para que a APEC tenha exortado ao Governo que as salas pudessem, legalmente, só abrir dia 2 de julho.
Contactada, a Associação Portuguesa de Centros Comerciais não se mostrou disponível para responder às questões do JN.
GAIA
UCI Arrábida abre amanhã 11 salas
A UCI, que tem 45 salas em Portugal, decidiu abrir amanhã apenas 11 das 20 salas que tem no Arrábida Shopping, em Gaia. Sem filmes novos, retoma o catálogo que estava a ser exibido antes da covid-19: "1917", de Sam Mendes; "Bad Boys par aempre", com Will Smith e Marin Lawrence, "Mulherzinhas", de Greta Gerwig; ou "The gentlemen: Senhores do crime", de Guy Ritchie. A única estreia é o filme independente francês "Os tradutores", com a atriz portuguesa Maria Leite.
Apelo ao Governo para intervenção
Os representantes do setor pedem uma intervenção legislativa ao Governo, no sentido de estabelecer uma moratória no pagamento das rendas aos centros comerciais, ou de tornar possível dividir as perdas entre o cinema e o shopping. "Não estamos a pedir dinheiro ao Estado", sublinham.
450 das 583 salas em Portugal
A APEC representa a maioria das exibidoras em território nacional, com cerca de 450 das 583 salas de cinemas : a NOS Cinemas (219 salas), Cineplace (85 salas), Cinema City (46 salas), UCI (45 salas) e Socorama (31 salas).
Maior dos EUA em risco de falência
A AMC, o maior exibidor norte-americano, continua ameaçado pelo risco de falência.