Coletivo humorístico brasileiro Porta Dos Fundos está de volta com “Portátil”, peça que vive do improviso e da interação com o público. Gregório Duvivier diz ao JN: “Portugal acarinha-nos sempre”. Tournée de sete datas começa em Braga esta quarta-feira e termina em Leiria no dia 30.
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Uma história de vida de alguém do público, tão comum e tão peculiar como tantas das histórias que partilhamos no dia a dia, é o ponto de partida para um espetáculo feito de gargalhadas, emoção, memórias e uma versão apuradíssima da arte do improviso. O coletivo humorístico brasileiro Porta dos Fundos regressa aos palcos com “Portátil”, numa nova digressão de sete récitas pelo país, já a partir desta quarta-feira.
O espetáculo foi criado em 2015 e tem encenação de Bárbara Duvivier, atirando para o palco Gregório Duvivier, João Vicente de Castro, Gustavo Miranda e Inês Aires Pereira, que é a convidada especial do elenco.Há também um pianista que é uma espécie de asterisco.
O sucesso por cá tem sido inquestionável, justificando sempre o regresso a um país que tanto acarinha a Porta dos Fundos em geral e este espetáculo em particular – é o que diz Gregório Duvivier, fundador do coletivom, ao JN.
“Acho que o acolhimento tem a ver com o facto de a peça ser sempre diferente. E também de ser um tipo de improviso a que as pessoas não estão tão acostumadas: o formato longo, como se fosse uma longa-metragem improvisada. Isso atrai muito as pessoas, que aqui nos acarinham sempre”, frisa o brasileiro.
O caricato e a essência
Cada espetáculo parte de uma entrevista a alguém sentado na plateia, que dá origem a uma peça improvisada. Durante 70 minutos, é feita uma recriação da sua história, incluindo momentos como o nascimento, as relações com os pais, adolescência, medos, sonhos e mais.
Duvivier explica como as diferente histórias tornam a peça num “híbrido de vários géneros". E explica: "A categoria da peça muda de acordo com o público e com o homenageado da noite. A cada sessão vai surgir um género diferente. Há pessoas que puxam para o lado cómico rasgado, mas muitas pessoas têm uma vida mais triste, mais trágica, e não cabe ali fazer uma comédia rasgada".
"Mas - garante - "há sempre humor, ainda que possa haver também melancolia. E há outros espetáculos que são bem poéticos, com um humor mais ingénuo porque a história da pessoa entrevistada entre o público pode pedir isso. Então, acaba por ser um espetáculo feito à medida do espectador”, revela o popular artista.
"Um trapézio com rede em baixo"
Sendo a base o improviso, o dilema aqui é manter a dinâmica e o mesmo nível de inspiração. Assim, haverá dias mais ou menos inspirados?
“Há dias e dias”, diz Duvivier. “Mas como somos quatro, cinco se contarmos com o pianista, nós cobrimos, criamos redes uns para os outros. Já temos uma dinâmica em que percebemos quando um está mais inspirado e toma a dianteira. Além de que a peça tem uma estrutura narrativa subjacente que é uma espécie de rede também”, esclarece.
Há um “esqueleto”, adianta, que garante que a história segue o mesmo caminho, mas sem prejudicar a liberdade do improviso. “É como um trapézio com rede em baixo”. O que também dá um pouco de justiça às histórias, que são tratadas por igual. “E, no fundo, todas são um pouco iguais”, frisa.
Gregório Duvivier dá exemplos: “Começamos sempre a perguntar como é que os pais se conheceram. E muda muito: em Portugal há o bailarico do interior, ou o elétrico, no Brasil, o baile funk, o carnaval, até o convento. Então, vamos do tom do carnaval ao tom do seminário. É muito diferente. Os cenários mudam, mas as histórias são muito parecidas, no fundo. Envolvem sempre uma essência que vem ao de cima”, adianta o comediante.
E conclui: “É bonito de ver que há arquétipos que se repetem entre todos. E acho que a peça fala disso também”.
Tournée com sete datas
A digressão de “Portátil” começa esta quarta-feira à noite no Fórum Braga, chega na quinta ao Convento S. Francisco, em Coimbra, e nos dias 26, 27 e 28 estará em cena na Aula Magna, em Lisboa.
No dia 29, é a vez de o Coliseu do Porto acolher "Portátil" e, no dia 30, a digressão termina no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria.