"One night in Porto", novo álbum ao vivo de Lisa Gerrard e Jules Maxwell foi gravado na Casa da Música. O JN falou com os dois artistas.
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Foi em novembro de 2022, no Misty Fest, que Lisa Gerrard e Jules Maxwell, a voz e um dos teclistas dos Dead Can Dance, apresentaram ao Porto o seu aclamado álbum "Burn". Lisa e Jules tinham escolhido dar sete espetáculos no nosso país para mostrar o novo trabalho; e foi na Casa da Música que fizeram o registo "comovente", como destacaram, que originaria "One night in Porto", disco neoclássico e de ambiente "dark wave", gravado ao vivo e que já está editado.
A noite no Porto era a terceira da tournée de "Burn", álbum que nascera de uma sessão de improviso no estúdio de Gerrard oito anos antes. Os músicos conheceram-se na digressão "Anastasis", dos Dead Can Dance, e a sua ligação criativa foi imediata - e, viria a revelar-se, duradoura. A ideia de lançar a versão de "Burn" ao vivo foi desafiante: os sete temas do disco eram feitos de camadas, misturas e texturas sonoras, criando um ambiente próprio que nem sempre é fácil replicar.
"Escolhemos o Porto"
A decisão foi outra: não replicar, mas recriar, uma nova abordagem às canções onde cada concerto é único.
"Escolhemos o Porto. Foi o único local em que gravámos com várias faixas", diz Jules ao JN. "Mas fiquei surpreendido, porque era apenas o terceiro concerto, mas saiu muito bem. Cada noite nós reimaginamos o "Burn" de forma diferente. E há momentos e memórias muito bonitas nessa gravação", adianta o pianista.
Lisa Gerrard concorda: "Em cada noite, cada concerto, ambos sentíamos que estávamos a iniciar um processo de desbloqueio do trabalho para descobrir o que chegaria. Por isso, tal como disse o Jules, cada noite era uma evolução, sendo que todos os concertos eram igualmente relevantes para nós".
À medida que as coisas evoluíam - continua a cantora -, "explorávamos, empurrávamos os nossos barcos um pouco mais para longe. Estou muito satisfeita com a honestidade do álbum", acrescenta ao JN.
Passam agora dois anos sobre a edição de "Burn", e sobre o que o disco trouxe para as suas vidas, o duo é consensual. "Não estávamos à espera de nada na altura em que fizemos as gravações, estávamos na verdade a trabalhar noutro projeto, o Le Mystère des Voix Bulgares. Não tínhamos a intenção de fazer um álbum", diz Jules.
Um público especial
"A digressão em Portugal foi uma redescoberta do disco, ligamo-nos a um nível mais profundo com ele. Por isso é um disco que nos continua a dar frutos. E isso é excitante, parece tudo muito orgânico", explica Jules.
Quanto à receção dos portugueses, Lisa Gerrard é perentória: "A música tem a capacidade de criar uma ponte abstrata e as pessoas que vão aos nossos concertos, vão com a intenção de ouvir realmente, há um entendimento prévio".
"Mas há aqui também um amor antigo, demos vários concertos em Portugal, há uma história. E esta intimidade evolutiva que se estabelece com o nosso público, esta nova conexão, com um novo ciclo a alimentar a relação é real. Em tudo sinto que fomos privilegiados: o público que construímos globalmente pode não ser muito grande, mas é extremamente dedicado", frisa.
A ver o mar de Espinho
A passagem em Portugal traz outras memórias, que tiveram um forte impacto emocional nos concertos, confessa Jules ao JN.
"O que mais me lembro foi de ensaiar para a tour em Espinho, num hotel mesmo em frente ao oceano. E foi uma semana selvagem, com muito vento e muita chuva, mas foi muito inspirador olhar para o mar todas as manhãs. Foi uma fonte de energia", conclui o músico.