Biblioteca de Óscar Lopes com 30 mil títulos ficará alojada na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras.
Corpo do artigo
Se tudo correr como previsto, as paredes ainda despidas do quinto e último piso da sede da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) vão estar preenchidas, dentro de um ano, com a majestosa biblioteca de 30 mil títulos pertencentes a Óscar Lopes.
Com "um esforço enorme", a histórica associação comprou recentemente a biblioteca, evitando que a mesma "se dispersasse pelos alfarrabistas", revelou ao JN o presidente da AJHLP, Francisco Duarte Mangas.
A este acervo literário junta-se um espólio igualmente vasto, em que podemos encontrar correspondência com os mais destacados autores e intelectuais do seu tempo ou anotações variadas, inéditas em muitos casos, que ajudam a compreender melhor a extensão e o rigor do pensamento do insigne académico, ensaísta e linguista, coautor da canónica "História da literatura portuguesa".
São quase infindáveis os tesouros bibliográficos contidos nas dezenas de milhar de títulos agora à guarda da AJHLP. Cobrindo a totalidade da segunda metade do século XX e os primeiros anos deste, a biblioteca é o retrato de um leitor apaixonado, mas também de um estudioso profundo, que anotava profusos comentários a lápis nas margens das páginas dos livros que lia, com a sua característica letra minúscula.
"A casa dele era uma autêntica biblioteca, com livros presentes em todos os cantos da casa, da garagem ao sótão", explica o presidente da associação.
de Agustina a ruben a.
O impressionante legado bibliográfico do autor de "Uma arte da música" salta bem à vista no lote de livros de que era proprietário. Da ciência às artes plásticas, da política à economia, nenhum saber lhe era verdadeiramente estranho.
No entanto, o núcleo fundamental da biblioteca é mesmo a literatura. São milhares de primeiras edições autografadas pelos mais destacados autores portugueses do século XX. A lista é extensa e dela fazem parte José Saramago, Ruben A., António Ramos Rosa, Vitorino Nemésio, Urbano Tavares Rodrigues, Adolfo Casais Monteiro ou José Gomes Ferreira, mas também figuras exteriores ao círculo literário, como D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto.
Fortemente pessoais na maioria dos casos, as dedicatórias inscritas nos livros traduzem o respeito e a admiração que a obra de Óscar Lopes suscitava na generalidade do meio intelectual. Numa delas, datada do início dos anos 90, o poeta Herberto Helder oferecia um exemplar de "Última ciência" ao ensaísta, garantindo tratar-se de "uma despedida dos versos", o que esteve longe de verificar-se. Já Eugénio de Andrade, enaltecia em 1981, numa edição inaugural do seu livro de poemas "O peso da sombra", "o camarada, o amigo e uma das mentalidades mais esclarecidas deste país".
À delicada operação de transporte, que ainda vai a meio, seguir-se-á a inventariação dos títulos. Concluída a tarefa, os livros de Óscar Lopes vão juntar-se ao acervo detido pela AJHLP, na qual se encontra uma importante coleção de jornais e o próprio arquivo histórico de uma instituição fundada há 140 anos.
Projeto
Faltam 200 mil euros
Para que o sonho da Biblioteca Professor Óscar Lopes se materialize são necessários 200 mil euros, a verba indispensável à adaptação do piso às novas funções. "A aprovação do financiamento por parte da Câmara do Porto e do Ministério da Cultura está bem encaminhada", diz o presidente da AJHLP, Francisco Duarte Mangas.
Aberta a todos
Mal as obras estejam concluídas, em 2023, a associação abrirá o novo espaço à população. A componente académica não foi esquecida. Os milhares de documentos do espólio de Óscar Lopes poderão ser consultados pelos investigadores.