Prestes a completar 90 anos, o que acontecerá em maio próximo, Clint Eastwood é um dos autores mais respeitados do cinema americano contemporâneo, mas o seu mais recente trabalho, "O caso de Richard Jewell", baseado num caso verídico, tem estado rodeado de forte controvérsia por sugerir que uma jornalista trocou uma notícia por favores sexuais a um agente do FBI.
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O filme traça o percurso de Richard Jewell (recriado por Paul Walter Hauser), que estava a prestar serviço como segurança, em julho de 1996, durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, quando descobriu uma mochila suspeita. Alertou de imediato as autoridades, que evacuaram o local. A precaução revelou-se certeira. mochila continha uma bomba, que acabou por explodir, matando uma mulher. O alerta de Jewell evitou, no entanto, que houvesse mais vítimas mortais.
Richard Jewell foi inicialmente celebrado como um herói, mas tudo se vira do avesso quando um jornal local (o "The Atlanta Journal-Constitution") publica a informação de que, afinal, o FBI o considerava suspeito de ter sido ele a colocar a bomba. Durante dias, foi perseguido pela comunicação social nacional e a tempestade mediática que o envolveu valeu-lhe a perda do emprego e uma sucessão de inquéritos federais, que lhe arruinaram o nome. Mesmo depois de ter sido ilibado, três meses depois (o verdadeiro culpado só confessou em 2005). Jewell morreu em 2007, com apenas 44 anos.
O que está em causa, na violenta discussão que se gerou após a estreia, é o facto do filme, cujo guião cinematográfico se baseia num artigo de uma revista e num livro sobre o caso, sugerir que Kathy Scruggs, jornalista que trabalhou sobre o caso, usou sexo para obter informações privilegiadas do FBI.
Essa cena, que usa o nome real da repórter mas não o nome verdadeiro do agente, provocou uma violenta reação do jornal. Nem o artigo, nem o livro aludem a essa possibilidade, pelo que Eastwood é acusado de destruir, sem provas, a reputação de Scruggs , que faleceu em 2001 e já não se pode defender. "É ofensivo e profundamente perturbante", declarou o diretor da publicação, que o filme sugira que a repórter tenha usado métodos inapropriados e não profissionais para conseguir informação. Argumentando contra a forma "injusta e difamatória" como o filme o representa, o jornal sublinha, em carta dirigida ao realizador e à produtora Warner Bros, que "foi dos primeiros a notar que o FBI falhou em considerar Jewell como suspeito".
Eastwood, por seu turno, desvalorizou a polémica: "Essa questão levantada pelo jornal de Atlanta deve ser uma espécie de complexo, por terem sido eles os primeiros a acusar Richard Jewell de ter cometido o crime."