Ana Luísa Amaral e Nélida Pinõn evocadas na 24.ª edição do festival, que decorre entre esta terça-feira e sábado na Póvoa de Varzim.
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Há quase um quarto de século que, no meio literário indígena, o mês de fevereiro é sinónimo de Correntes d'Escritas, festival que dita à sua maneira o arranque do ano editorial português.
Depois de duas edições em moldes mais reduzidos ou condicionados pela pandemia, a Póvoa de Varzim volta atrair boa parte do setor livresco, com uma profusão de escritores e editores por metro quadrado sem paralelo nestes dias em qualquer outra parcela do território nacional.
Oriunda de 15 países de expressão ibero-americana, a centena de convidados começa a partir de hoje a desaguar na cidade costeira, cumprindo uma maratona de eventos, presenciados por uma legião de indefetíveis que costuma esgotar o Cine-Teatro Garrett. São (quase) todos repetentes, muitos dos quais têm praticamente o pleno das edições, como são os casos de Manuel Rui ou Onésimo Teotónio de Almeida, entre muitos outros.
Estreias também as há. Autor de um livro de estreia de raro fôlego, "O sol na cabeça" - volume de contos que convoca o caos, mas também os laços de humanidade criados nas favelas -, o brasileiro Geovani Martins vai à Póvoa apresentar o seu romance inaugural, "Via´Ápia".
Das 37 sessões de lançamento agendadas, há várias que se aguardam com especial expectativa. Como o novo livro da celebrada autora espanhola Rosa Montero, "O perigo de estar no meu perfeito juízo", com que concretiza uma aproximação ao seu marcante livro "A louca da casa".
Livro novo é o que também traz Juan Gabriel Vásquez, o autor colombiano de maior reconhecimento internacional da atualidade, que, duas décadas depois da estreia, regressa ao domínio do conto com "Canções para o incêndio".
A 24.ª edição do "Correntes" fica marcada pela homenagem a Ana Luísa Amaral e Nélida Piñon, recentemente falecidas. Para evocar a obra da poetisa, a organização intitulou cada uma das 11 mesas do evento com um verso extraído dos seus livros. Já a escritora brasileira, será o tema central da conversa entre o jornalista José Carlos de Vasconcelos e o escritor António Torres, no último dia do certame.
Se as conversas são o eixo central do festival nortenho, a programação contempla muitos outros pontos de interesse e uma confluência com outras artes. Entre hoje e sábado, haverá oportunidade para assistir a exposições (com destaque para a dedicada a Agustina Bessa-Luís, "Vida e obra", parte integrante das comemorações do centenário do nascimento), assistir a filmes (como "Campo de sangue", filme realizado por João Mário Grilo, a partir do livro homónimo de Dulce M. Cardoso) ou até participar em cursos. Na sexta e no sábado, Gonçalo M. Tavares apresenta o curso "Dicionário de artistas", com o qual, "a partir da obra de alguns artistas contemporâneos", propõe "o que se pode pensar e escrever".
Destaques
hoje - Leituras e concertos
Logo pela manhã, grupos de leitores vão dizer poemas no mercado municipal e em várias artérias da Póvoa. Ao final da tarde, o destaque recai sobre a inauguração da instalação "Manto redondo", de Isabel Babo. Ao serão, o Cine-Teatro Garrett acolhe o concerto "Encontro nas lusofonias", com a participação de, entre outros, Dani Silva e Paulo de Carvalho.
AMANHÃ - Conferência
O médico Manuel Sobrinho Simões foi a personalidade escolhida para proferir a conferência inaugural. "Ciência e cultura" é o título da alocução, marcada para as 15 horas, no anfiteatro municipal. Ainda antes, ao final da manhã, vão ser conhecidos os vencedores dos prémios literários atribuídos anualmente pelo festival poveiro.
QUINTA-FEIRA - Mesas-redondas
"E eu preciso das minhas solidões" é a primeira das três conferências do dia, logo às 10 horas. Participam Ana Paula Tavares, Cristina Morales, Inês Pedrosa, Paulo Moreiras, Santiago Gamboa e Manuel Alberto Valente.
SEXTA-FEIRA - "Conversas correntes"
Teolinda Gersão é a protagonista da entrevista "Conversas correntes", conduzida pelo jornalista Luís Caetano.
SÁBADO - Encerramento
Os prémios anunciados na quarta-feira vão ser entregues no derradeiro dia do festival, às 17.30, no Cine-Teatro Garrett.